Opinião

Conhecimento? Mais, por favor

24 mai 2018 00:00

E não se está apenas a falar de conhecimento técnico, pois nesse, apesar de ainda muito poder ser feito, foi dado um salto imenso nas últimas duas décadas.

A cerimónia do Dia do Município de Leiria foi, como habitualmente, carregada de simbolismo e emoções. Para lá da homenagem aos colaboradores da Câmara que completaram 25 anos de serviço e da atribuição da medalha da cidade, em diferentes graus, a 12 personalidades de distintas áreas da sociedade, galardões que dificilmente alguém poderá contestar, importa referir as mensagens transmitidas pelos três belos discursos com que António Sequeira, Raul Castro e Rui Pedrosa, presidentes, respectivamente, da Assembleia Municipal, da Câmara Municipal e do Instituto Politécnico de Leiria (IPL), brindaram uma plateia muito bem composta.

Foram discursos repletos de palavras de optimismo, de confiança e de orgulho, mas também com mensagens mobilizadoras a pedir mais união, colaboração e pensamento colectivo, tudo por um concelho que se quer afirmar cada vez mais pela qualidade de vida, dinâmica empresarial e dimensão cultural.

A este respeito, merece particular destaque o recém empossado presidente do IPL, que, ao longo do seu discurso, repetiu um sem-número de vezes a palavra ‘conhecimento’, enfatizando de forma clara que o futuro girará, inevitavelmente, à sua volta. Espera-se que seja um sinal do que serão as prioridades do seu mandato, mas também que essa bandeira de Rui Pedrosa possa polinizar-se junto de outros decisores desta região e da própria comunidade em geral.

E não se está apenas a falar de conhecimento técnico, pois nesse, apesar de ainda muito poder ser feito, foi dado um salto imenso nas últimas duas décadas, como facilmente se reconhece pela actividade de muitas das nossas empresas, instituições de ensino superior e centros de investigação. Onde Portugal vai progredindo mais lentamente é no conhecimento mais geral, aquele que apenas se alcança mergulhando nos livros, ouvindo quem mais sabe, viajando por outras culturas, abrindo o coração às diferentes correntes artísticas.

Aquele tipo de conhecimento que quanto mais temos, maior percebemos ser a nossa ignorância, não nos deixando andar confortáveis sem tentar saber mais e mais. Muitas vezes conhecimento gerado há muitos séculos e que chegou a nós pelos principais clássicos da literatura e da filosofia, pelas obras-primas da escultura e da pintura, pelo arrojo arquitectónico característico das grandes civilizações do passado, que o foram alicerçadas no conhecimento e na cultura.

É esse que ainda nos vai faltando e para o qual parece não haver grande interesse, como bem nos mostra o baixo número de leitores de livros e jornais, mas também de consumidores de cultura, principalmente a menos mainstream, com notórios reflexos em reduzidos níveis de exigência, espírito crítico, intervenção cívica e reflexão, aspectos chave para qualquer sociedade evoluída e para a qualidade de vida que esta pode oferecer.

*director