Opinião
Consumismo "fast food" a matar Leiria
Com o anunciado encerramento das lojas Berska e Pull&Bear, e com o fim da Zara, na zona central da cidade de Leiria, fica cada vez mais patente a morte lenta dos espaços mais antigos da urbe.
Cidades dinâmicas e com boa animação vivem das visitas da população e do desfrute do espaço público, mas o que se nota em Leiria, e na maioria das vilas e cidades da região, é precisamente o contrário.
Espaços urbanos vazios de gente e passeios sem viv’alma. Perante um cenário de cada vez maior desinvestimento nas cidades, não há Lojas dos Cidadãos que salvem a honra do convento.
É certo que os vários Executivos camarários têm a sua quota parte de responsabilidades, em especial os que licenciaram grandes superfícies comerciais, sem estudos do impacto futuro que tais espaços iriam ter no tecido urbano.
Mas não deixa de ser certo e sabido que também uma cultura de consumismo fast food, despersonalizado, afecta a generalidade da população. Aos sábados e domingos, mete aflição ver as pessoas a não desfrutar da cidade, paralisadas nas longas filas de trânsito que dão acesso ao shopping – sabe-se lá o que poderão fazer ali, que não poderiam fazer nas ruas da cidade e com muito menos stress.
Quando foi a última vez que compraram algo numa loja de rua? Vem tudo da prateleira do hipermercado? Claro que o comércio tradicional também tem culpas no cartório. Esqueçam o choradinho da falta de estacionamento, que disso há em todo o lado.
Além da inexistência de lojas de marca de porta para a rua, haverá alguma justificação para os espaços comerciais abrirem as portas às 9 horas, justamente quando 99% da população começa a trabalhar, e fecharem pelas 13, quando os potenciais consumidores estão a sair para almoçar, e encerrarem ao fim do dia quando, mais uma vez os consumidores estão a sair do trabalho?
Bom… para compensar, seguramente, o comércio tradicional e a restauração estarão abertos ao fim-de-semana, quando as pessoas têm mais tempo. Não? Então o que está aberto? O shopping?! Ou é falta de prospectivas ou incapacidade cognitiva permanente e colectiva.
Nesta edição voltamos a falar da Pousada da Juventude, no centro histórico de Leiria, que o Governo de Passos Coelho encerrou de um dia para o outro, alegando uma hipotética poupança de alguns milhares de euros.
Seria curioso fazer as contas e tentar perceber quanto é que a cidade perdeu, em número de visitantes e seus gastos em consumo, com esta “medida de poupança”. Sobram os hostels que vão surgindo, sem nunca resolverem a ausência da pousada.
Resumindo, há menos gente jovem a visitar a cidade e a baixa atractividade turística é uma das grandes pechas em todo e qualquer relatório sobre desenvolvimento da cidade. Que o diga o colectivo que está a estudar a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura.
Recapitulando, Leiria está a perder vida. O diagnóstico está feito, agora falta traçar medidas e aplicá-las fora do papel, para contrariar este cenário de uma cidade que é, cada vez mais, um amontoado de paredes vazias a conviver com um shopping a rebentar pelas costuras.
*jornalista