Opinião

Criticar é fácil

25 ago 2016 00:00

"Medalhas? É como montar uma empresa e tentar fazer dela uma das três melhores do mundo. Querem tentar?”.

Foi com esta analogia que João Pereira, quinto classificado na prova de triatlo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, respondeu a quem pedia medalhas. E se pensarmos bem, quantas empresas tem Portugal no top da sua área? A Corticeira Amorim, a leiriense Respol, mais uma ou outra, eventualmente... Aliás, em que é que Portugal está entre os três melhores do Mundo?

Lisboa e Porto têm, nos últimos anos, sido eleitos por algumas publicações da especialidade como dos melhores destinos turísticos. Temos algumas personalidades que se destacam nas suas áreas, como Siza Vieira, António Damásio, José Mourinho, Horta Osório, António Guterres ou Cristiano Ronaldo, esse sim, indiscutivelmente, o melhor a par de Messi.

Mas em que mais podemos dizer que estamos entre os melhores, mesmo que não entre os três primeiros?

A título de exemplo, refira-se a notícia de que toda a comunicação social deu eco este mês e que referia ter Portugal cinco universidades entre as 500 melhores do Mundo (sim, 500...), segundo o ranking de Xangai, com a Universidade de Lisboa, a primeira das portuguesas, a emitir um comunicado em que se regozija pela 160.º posição, que, segundo a instituição, "traduz um momento histórico de consolidação de um grande projecto”.

Também este mês, foi notícia na nossa imprensa que a EDP está entre as melhores do Mundo na área da Energia, figurando na 69.ª posição entre 250 empresas. 69.ª posição...

No entanto, enquanto estas distinções eram noticiadas como êxitos nacionais, o desempenho dos atletas portugueses no Rio de Janeiro, que além de uma medalha de bronze, conseguiram mais 18 classificações no top 10 e outras 13 até aos 16 primeiros lugares, foi entendido pela maioria como um fracasso e uma desilusão.

De repente, àqueles atletas que antes dos Jogos Olímpicos raramente mereceram atenção da comunicação social e que, a maioria, o País nem sabia que existiam, era exigido o topo do Mundo. Nunca menos do que uma medalha, que ajudasse a aliviar as frustrações do dia-a-dia e o preconceito de inferioridade que ainda tolhe boa parte da população.

Para as contas das expectativas e análises posteriores, poucos tentaram perceber que condições e apoios tiveram os atletas às costas do quais se colocou um País inteiro.

Aos analistas cá da praça, tão lestos a apontar o dedo e a afiar a faca da crítica, quanto negligentes nas suas apreciações, deixou algumas palavras o canoísta Fernando Pimenta, 5.º classificado no Rio de Janeiro: “provavelmente, os que me criticam, nunca viram desporto sem ser futebol. (…) Vê-se claramente que as pessoas não têm noção do que é desporto, do que é passar um Inverno completo dentro de um rio, acordar às 7 horas para fazer treinos de natação, ir para o rio com dois ou três graus de temperatura”.

Pois... muitos não sabem mesmo o que é desporto e o que este exige para se chegar a um nível elevado, mesmo que insuficiente para se conseguirem medalhas. Falar é, obviamente, muito mais fácil!

*Director