Opinião
Cuidar de quem cuidou de nós
É claro que não estamos a olhar com especial cuidado para a forma como o País se está a preparar para responder ao envelhecimento da população
Os dados dos Censos tornados públicos recentemente mostram um País a envelhecer a passos largos, com todos os impactos que daí resultam. É evidente que têm escasseado os apoios necessários à remoção dos obstáculos à natalidade desejada, o que é um problema brutal para a sustentabilidade de inúmeras políticas públicas.
Mas também é claro que não estamos a olhar com especial cuidado para a forma como o País se está a preparar para responder ao envelhecimento da população. Antes de mais, recordemos os números. O retrato do País em 2021 mostra um claro e preocupante agravamento do envelhecimento, face aos últimos Censos.
O índice de envelhecimento aponta para 182 pessoas idosas para cada 100 jovens. Mais de 23% da população portuguesa era idosa em 2021, enquanto a de jovens até aos 14 anos era de pouco mais de 12%.
Esta tendência que se vai acentuar não tem tido da parte dos poderes públicos as devidas respostas. Não sendo um dos casos mais graves, falemos do distrito de Leiria. Leiria tem cerca de 16 mil pessoas com mais de 90 anos. Ora, são pessoas que necessitam de cuidados especiais em várias dimensões. Com mais de 65 anos são cerca de 120 mil pessoas.
Se é verdade que a preservação da autonomia destas pessoas deve ser potenciada, a verdade é que há casos em que as respostas das estruturas residenciais para idosos são mesmo necessárias. E, olhando para esta composição etária, não deixa de ser desconcertante que existam apenas sete mil vagas em lares, incluindo a capacidade instalada das IPSS e rede lucrativa.
Ou seja, uma resposta manifestamente insuficiente. Acresce a este facto, a circunstância de o sistema de saúde apresentar vários sinais de colapso, perigando o acesso de milhares de pessoas a cuidados de saúde de qualidade e no tempo devido.
Com o envelhecimento da população, haverá cada vez mais pressão neste tipo de serviços. E, lamentavelmente, não há nada de estrutural a ser pensado ou sequer debatido. Arriscamo-nos, por isso, a não estar à altura de cuidar bem de quem tão bem cuidou de nós.