Opinião
CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO - VI
Morreu uma parte da história do ensino superior de Leiria
No dia 10 de outubro de 2016 ardeu todo o interior do Convento de Santo Estevão onde funcionou a Escola do Magistério Primário de Leiria, a Escola Superior de Educação de Leiria (ESEL) e a Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG), entre outras.
Morreu uma parte substancial do ensino superior de Leiria e uma parte de muitos de nós.
Inicialmente convento, Convento de Santo Estevão, depois escola Primária e Escola do Magistério Primário de Leiria até 1987, partilhado com instalações da GNR, ardeu ontem, por razões ainda pouco conhecidas, este património da nossa (Univer)cidade.
Extinta a escola do Magistério Primário, a ESEL foi ocupando estas instalações, essencialmente a partir de 1989, quando o número de alunos da formação de professores foi crescendo e as iniciais instalações se foram tornando escassas.
Tal necessidade acentuou-se mais a partir do ano de 1993, quando a ESEL se abriu a outros cursos da área das Ciências Sociais e da Comunicação, como foi o caso do bacharelato e mais tarde licenciatura em Relações Humanas e Comunicação no Trabalho (RHCT) onde se formaram muitos quadros que hoje ocupam lugares de topo em bancos, seguradoras, empresas e outras organizações de Leiria mas não só.
A ESEL, mais tarde ESECS, acabou por ter aulas, também, na rua General Humberto Delgado, em instalações provisórias, antes de criar um bloco novo junto das instalações iniciais, atrás da CMLeiria e acabou por permitir que no convento de Santo Estêvão nascesse a ESTG, hoje situada no campus universitário junto ao shopping.
Muitos professores, engenheiros, gestores e muitos estudantes guardam boas memórias daquele espaço. Espaço que, consoante a história de vida de cada um, é nomeado de várias formas: Convento de Santo Estêvão, Escola do Magistério Primário, antiga ESEL, antiga ESTG, etc. e evoca e subjetiva, portanto, diferentes significados mas todos eles de inestimável valor patrimonial e afetivo.
Lindos claustros e lindo jardim. Lindo corredor e balaustrada de madeira em volta dos claustros. Salas com acústica fantástica, muito superior às mais modernas de hoje, porque tinham um chão em madeira. Madeira que ardeu definitivamente.
O convento de Santo Estevão vinha a ser usado ultimamente, pelas tunas do IPL que ali guardavam todo o seu equipamento que infelizmente ardeu também e onde faziam os seus ensaios.
Pena que nenhuma das ideias/projeto de recuperação/preservação tivesse vingado e o edifício tivesse ficado ao abandono. Ficam as paredes e a memória ferida dos que ali viveram, conviveram, discutiram, ensinaram, e apreenderam.
Com o incêndio desse fatídico dia 10 de outubro de 2016, morreu parte da história do ensino em geral, do ensino superior, em particular, em Leiria, e, inevitavelmente, parte de muitos de nós.
A (Univer)cidade de Leiria ficou amputada e mais pobre.
"É MELHOR MERECER AS HONRAS SEM RECEBÊ-LAS DO QUE RECEBÊ-LAS SEM MERECÊ-LAS." (Mark Twain)
*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria
Professor Coordenador Principal
ESECS-IPLeiria e CICS.NOVA.IPLeiria
(O autor do texto escreve segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990)