Opinião
CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO – XII
Universidades de Ciências Aplicadas? Para quê? Mais distinções geradoras de desigualdade?
No passado dia 16 de novembro de 2016, o IPLeiria fez a abertura solene do seu ano académico de 2016/17. O evento, este ano, foi realizado na ESTM, Peniche.
Além da atribuição do título de Honoris Causa [na aparente impossibilidade de atribuição do título de “Doutor Honoris Causa”] ao professor doutor Pedro Lourtie, presença assídua em Governos do PS e atual presidente do Conselho Geral (CG) do IPLeiria, são de salientar os discursos do Presidente do IPLeiria, professor doutor Nuno Mangas, e do já referido presidente do CG.
Nuno Mangas voltou a frisar, e muito bem, a necessidade de o IPLeiria poder transformar-se numa universidade e, consequentemente, poder vir a atribuir o grau de doutor.
Já o havia feito, brilhantemente, no ano passado, no dia 17 de novembro de 2015, no Teatro José Lúcio da Silva, numa cerimónia que abrangeu a abertura do ano académico do IPL e a comemoração dos 35 anos do IPLeiria.
Só que Nuno Mangas tem apenas mais um ano pela frente como presidente. Ou conseguirá catapultar, até lá, o IPL para Universidade? Deus queira e nos ajude.
Por seu lado, o discurso do presidente do CG, Pedro Lourtie, foi bem mais softy, lembrando o primeiro Politécnico Europeu a conceder o grau de doutor e a bater, de novo, numa tecla sem afinação: a possibilidade de os politécnicos concederem doutoramentos. Ora, em boa verdade, as escolas profissionais também não concedem licenciaturas, pois não?
Parabéns ao Diário de Leiria que dedicou a primeira página do dia seguinte, 17-11-2016, à abertura solene do ano académico do IPLeiria, com a manchete “Politécnico não desiste de ser Universidade”.
Já no ano transato, na similar cerimónia realizada em Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva, o DL dedicou cinco páginas ao evento, tendo o jornal sido distribuído a todos os participantes que encheram o recinto.
À hora a que escrevo este texto, estão reunidos os Conselhos Gerais (CG) dos Institutos Politécnicos Portugueses, em Lisboa, tendo convidado, para a abertura da sessão, o Presidente da República, professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa.
Os presidentes dos CG querem mostrar o contributo dos Institutos Politécnicos para o desenvolvimento do país e lutar pelo uso da designação internacional de “Universidades de Ciências Aplicadas”, como forma de se promoverem junto dos estudantes estrangeiros. Será discutido, também, o sistema binário e o acesso a financiamentos.
Ora se o sistema binário já é desigual, vale a pena perguntar se não se estará a lutar por um sistema ternário. Ou todos os politécnicos têm condições para se transformarem em universidades? E por que razão em Universidades de Ciências Aplicadas? Mais distinções geradoras de desigualdade? Ora, “não há Ciência Aplicada, existem sim aplicações da Ciência” (L. Pasteur).
Urge haver reorganização do ensino superior em Portugal [a demografia e a racionalidade, quer económica quer científica, a isso obriga]. Os sucessivos governos continuam a enterrar a cabeça na areia relativamente a esta matéria. Alguns politécnicos deverão fundir-se com outras IES e alguns deverão poder ser universidades [universidades, tout court]. Universidades [ponto!].
Quando o forem, e quando tiverem unhas para tocar viola, deverão poder atribuir o grau de doutor. As mudanças por decreto e em rebanho são sinal de ausência de capacidade de reconhecimento do que é, efetivamente, exceção. Alguns politécnicos são excecionais, outros não.
Ainda assim, é de louvar o recente trabalho promovido pelos presidentes dos CG dos Institutos Politécnicos portugueses, que saíram do conforto do lar para a discussão e reivindicação de maior justiça no ensino superior.
Espero poder aprofundar, na próxima semana, alguns temas tratados nessa reunião de hoje.
"É MELHOR MERECER AS HONRAS SEM RECEBÊ-LAS DO QUE RECEBÊ-LAS SEM MERECÊ-LAS." (Mark Twain)
*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria
Professor Coordenador Principal ESECS-IPLeiria e CICS.NOVA.IPLeiria
(O autor deste texto segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990)