Opinião
Doutoramentos para já. Universidade logo se vê...
Para os que ambicionam ter ensino universitário em Leiria, esta solução pode revelar-se uma fava embrulhada em papel dourado.
Face à reivindicação de alguns institutos politécnicos em passarem a ser universidade, ambição que os sucessivos governos têm travado, Manuel Heitor, ministro da Ciência e Ensino Superior, abriu a porta a que estes possam começar a ministrar doutoramentos, um dos principais argumentos evocados nesta luta.
No fundo, com esta meia solução, Manuel Heitor, tenta agradar a gregos e a troianos, cedendo aos politécnicos num dos seus pontos de honra, sem alargar, no entanto, a rede universitária, o que, não seria bem recebido pelas universidades e pela poderosa elite que as domina, além de manter o sistema binário do ensino superior em Portugal, defendido por muitos especialistas.
Apesar desta ideia do ministro ir ao encontro de uma das reivindicações dos politécnicos, acaba por deixar mais distante o grande objectivo pelo qual têm vindo a lutar, pois esta solução deixará mais vincada a diferença entre as duas vertentes de ensino superior existentes em Portugal.
As universidades continuarão com o exclusivo do modelo clássico de doutoramentos académicos e aos politécnicos caberão doutoramentos com um cariz profissional ou tecnológico, feitos em parceria com empresas, na linha do que acontece já com os outros ciclos de estudos. Ou seja, para os que ambicionam ter ensino universitário em Leiria, esta solução pode revelar-se uma fava embrulhada em papel dourado. Um presente envenenado que, no imediato, é interessante para o IPL, mas que poderá vir a dificultar, no futuro, a concretização do anseio desta região ter uma universidade.
Apesar de tudo, a concretizar-se a ideia do ministro Manuel Heitor, não deixa de ser uma mais-valia para o IPL passar a ministrar esses doutoramentos, uma decisão justa face à reconhecida capacidade e qualidade de algumas áreas em que o Politécnico de Leiria se tem vindo a destacar. Será também importante para o tecido empresarial desta região, que terá, assim, mais condições para avançar com projectos de investigação e inovação, factores determinantes para a sua competitividade.
Como tem referido insistentemente Nuno Mangas, o caminho para chegar a universidade foi iniciado há muito e vai-se fazendo com pequenos passos. Mesmo que este não seja o passo que o presidente do Politécnico de Leiria desejaria, não deixará de ser importante para a afirmação da instituição como uma referência no ensino superior e para a sua capacidade de atrair alunos portugueses e estrangeiros.
Um caminho que terá de passar obrigatoriamente por continuar a procurar a qualidade em tudo o que acontece no seu universo, seja ao nível do investimento em investigação e em produção de conhecimento, seja no envolvimento com a comunidade, empresarial mas não só, seja ainda na afirmação do seu corpo docente como referência cientifica no meio académico e como pensador interventivo das causas públicas. Universitário ou não, o futuro desta região dependerá muito do que o seu ensino superior conseguir ser e do conhecimento que for capaz de produzir.