Opinião

É Carnaval, mas claro que levo a mal

11 mar 2022 15:45

Seguramente que todos preferíamos que as forças armadas treinassem cenários de vacinação e não cenários de guerra

Depois de dois longos anos em que todos ansiávamos pelo fim da desgraça que assolou o mundo, deparamo-nos agora todos, em choque, com algo seguramente mais atroz. A guerra.

Se foi duro ver tantas vidas a serem tolhidas por uma infeção oportunista durante os últimos dois anos, muito mais duro é agora ver vidas a serem tolhidas por outro tipo de oportunismo, bem mais nefasto, durante as últimas duas semanas.

É injustificável que sequer uma vida se perca por esta via.

Perder alguém por uma doença, ou por um acidente, é terrivelmente mau mas aceita-se seguramente melhor do que perder alguém por um ato de violência.

Por isso levo a mal. Levo muito a mal! Não é por ser Carnaval que não levo a mal!

Dois anos depois de tanta incerteza, agora que nos preparávamos para encontrar novas normalidades, deparamo-nos afinal com esta gigantesca anormalidade!

Caricatamente, creio que preferíamos continuar a ver noticiários cheios de números de infetados por Covid, números de mortes por Covid, números de recuperados por Covid, números de vacinados, números dos que faltam vacinar, do que ver os noticiários a que agora assistimos.

Seguramente que todos preferíamos que as forças armadas treinassem cenários de vacinação e não cenários de guerra.

Na verdade, quando começou esta pandemia, também se falava de guerra, mas caricatamente, era uma expressão que nos dava alento e com a qual todos concordávamos.

Estávamos em guerra, todos, contra um mal comum.

Algo externo à nossa espécie que nos estava a por, a todos, em perigo. E por isso, sem armas, sem ofensas, lutámos. Todos. Juntos. Para combater esse mal comum. E isso é natural.

A natureza dita que assim seja. Que os indivíduos da mesma espécie se unam para, em conjunto, sobreviverem.

Lutarmos uns contra os outros, matarmo-nos uns aos outros não é natural. Não há nada, absolutamente nada, que possa justificar tal ignomínia.

Nada mais tenho a dizer.

Que o silêncio que o espaço por preencher neste comentário ocupa sirva de homenagem a todos os que sofrem diretamente com esta guerra.

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990