Opinião
É e serás
No meio de tanta ambiguidade, as pessoas aprisionam-se a falsas expectativas e depois acabam perdidas num oceano de confusões e preocupações
O problema ideológico que a presente sociedade desenvolve em redor de um imaginário de ideais está a estrangular a capacidade de desenvolvimento de raciocínio de cada um. As pessoas, feitas formigas, umas formatadas outras fora do formato comum, estão rendidas ao consumo e a tudo aquilo que a informação, marchetada por grupos económicos, vai impingindo como regra na sociedade.
E no meio de tanta confusão que paira na cabeça da maioria, as pessoas começam a confundir o crer com o que querem. Vão vagueando entre pensamentos lúbricos e deixando o lacre de ideias pré-feitas anular a forma de meditar.
No meio de tanta ambiguidade, as pessoas aprisionam-se a falsas expectativas e depois acabam perdidas num oceano de confusões e preocupações. Agarram-se, quando ainda conseguem, a uma jangada de vela trespassada, na esperança de alcançarem uma rota que as faça abandonar a incerteza e embalar perante uma nova confiança numa procura constante do que se pode definir como a capacidade de “seres quem és”.
Só se consegue alcançar algo e ser gota livre neste oceano sujo quando se tiver a capacidade de analisar o seu interior e depois, então, expelir o que verdadeiramente se é, enfrentando com harmonia (estar bem consigo) esta crise de valores sociais, morais e mesmo materiais.
Só encontrando, interiormente, “quem se é”, é que se pode abraçar o alicerce da verdade humana que constrói a base para enfrentar a bruma de problemas que esta sociedade de atroz consumismo nos vai impondo, semeando no nosso caminho sombras que nos perseguem e comprometem a nossa existência e capacidade de sermos o que verdadeiramente sentimos e desejamos.
Nos momentos vertiginosos da nossa vida não devemos hesitar em vestir as opas daquilo em que acreditamos e sermos romeiros do nosso caminho, sem olhar às aparências e ilusão de sermos, ou parecermos ser, mais importante que o outro.
Se não tivermos a capacidade de apresentarmos as nossas ideias e enfrentar os problemas de cabeça erguida, iremos continuar a ser marionetas do poder consumista e submisso a uma ideologia que, cada vez mais, nos afunda na incerteza.