Opinião

É permitido chorar

2 mar 2016 00:00

Assinalou-se a 4 de Fevereiro o Dia Mundial da Luta contra o Cancro. E, paradoxalmente, assinalou-se também a partida do meu pai na sua luta contra o cancro. Costumava compará-lo à sua passagem pela Guerra Colonial e à ideia que já tinha sobrevivido a uma guerra e agora estava apenas a enfrentar mais outra. Comparação intensa e uma coincidência de lutas que não me são indiferentes.

E arrisco a dizer que, a nenhum de nós é indiferente esta data, este tema. Hoje uma colega de trabalho abeirou-se de mim, com os olhos carregados de emoção: "Tenho uma coisa para te dizer. O nosso utente, o Francisco, veio hoje falar comigo. Está há um ano e meio sem beber. Ontem foi-lhe diagnosticado um cancro no pulmão. Foi um murro no estômago, um silêncio esmagador.

E perguntava-me no final: Vale a pena?" O cancro vive entre nós e isso é uma certeza que dói. Que esmaga por dentro. Nas nossas famílias, no local de trabalho, nos amigos, nos amigos dos nossos amigos, nos media, nas redes sociais, na vida de todos nós. O objectivo do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro é desmistificar algumas das ideias pré-concebidas sobre o cancro e informar sobre os factos reais da doença.

E isso conta. É importante. Pode ajudar a dar sentido ao que por vezes não se consegue pensar, digerir, aceitar. Mas nem sempre chega. Os pacientes oncológicos e suas famílias experienciam uma multiplicidade e simultaneidade de dimensões do sofrimento que importa cuidar, dar voz, porque aquilo que não é falado é vivido pela dor, intensifica a dor.

*Psicóloga Clínica

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