Opinião

Euronóia

27 abr 2025 10:22

A “minha” Europa é um sonho que morreu às mãos da tecnocracia, da ideologia, do medo, da paranóia, da falta de critério

A Comunidade Europeia foi, para muitos, e, talvez com razão, uma tábua de salvação e um degrau subido para a evolução do país, para a sua consolidação europeísta. A mão bateu forte no peito, a obra foi feita, a bazuca explodiu-nos na cara, e é agora difícil especular no que nos teria acontecido sem o fixe do Soares ou o Euro que nos dobrou as contas.

Estou ao momento nessa Europa, mas tem pouco do sonho que foi. Sente-se um peso diferente. Reina a desconfiança, com fronteiras que, aos poucos, regressam; com impostos que se cobram, apesar da boa-vontade dos convénios da dupla tributação, e o que mais virá, com uma Europa em pleno rearmamento contra fantasmas eslavos que apenas enriquecem as Thales, as Dassault Aviation destas vidas, com o dinheiro do contribuinte europeu, que pagou por estradas mas que agora recebe violência armada. Da comunidade à comodidade, à irmandade das armas foram uns meros 20 anos.

O lindo poema Laurent Gaudé (A nossa Europa), necessita de revisão rápida, de novos protagonistas com sobrenomes alemães e portugueses, porque António Costa usa agora a gola alta da submissão ao que melhor oportunidade lhe dê. Trocar Portugal pela Europa, foi assim como trocar o escudo pelo euro, um doce amargo, que os salários dos comissários adoçaram ao longo das décadas.

Nunca me senti europeu. Sou português. Sou como um texano que é americano. Pertenço mas não sou igual. Sou vizinho mas não moro na mesma casa. Vivi e beneficiei muito da minha Europa, com a minha banda, com as minhas viagens, com o facto de não ter de andar com mil câmbios numa carteira de dez bolsas.

Mas a “minha” Europa é um sonho que morreu às mãos da tecnocracia, da ideologia, do medo, da paranóia, da falta de critério, e não, não sou de direita, vocês sabem disso, mas com cada passo que se dá agora, o abismo invoca-nos. A nós: o continente da paz, da harmonia, do compromisso, da luz que iluminava e que agora se está a apagar para dar lugar a uma nova era que se prevê escura, como, com certeza, serão os últimos dos tempos.