Editorial

Filhos da democracia

21 abr 2022 11:50

Chegados a 2022, tudo isto parece distante. Já passaram quase 50 anos

A escolha foi aleatória, mas feliz no resultado.

Esta semana, recordamos como quatro conterrâneos nossos viveram o 25 de Abril de 1974.

Há 48 anos, eram todos adolescentes. E, pelos seus testemunhos, é possível fazer um retrato de como uma boa parte da juventude sentiu o fim da ditadura.

Não é nada de novo? Pode não ser, mas é memória. E memória da boa, se evocarmos o confronto entre passado e futuro.

Hoje, os protagonistas das nossas páginas de abertura são figuras respeitáveis na advocacia, docência, política e gestão.

No dia da transição para a liberdade, eram apenas jovens estudantes.

Viviam em seios familiares distintos, geograficamente, economicamente e, arriscaríamos dizer, até intelectualmente, mas todos revelavam já um certo sentido de irreverência, que actualmente é desejada, mas que na época era reprimida.

E que reclamavam eles? Coisas tão simples nos nossos dias, mas tão distantes naquela época, como a igualdade entre o ensino público e o privado, a partilha do recreio entre rapazes e raparigas, a possibilidade de dizer não ao serviço militar.

Chegados a 2022, tudo isto parece distante. Já passaram quase 50 anos. 

E, para os mais novos, habituados à velocidade da informação e à liberdade de expressão, estes testemunhos podem soar apenas a coisas do século passado.

Se assim for, é o desvalorizar da luta de muitos pais, avós e bisavós.

É ignorar que sem estar atento ao passado, se torna mais difícil compreender o presente e idealizar o futuro.

A democracia - que aqui simplificamos classificando como um regime político que permite a escolha livre de um Governo, assegura a liberdade de expressão e procura a igualdade social - atingiu este ano a maioridade em Portugal, ao suplantar o número de anos em que o País esteve sujeito a um regime ditatorial.

Mas será que atingimos também a maturidade comunitária, ou apenas conquistámos uma cada vez maior fragmentação de ideologias, alimentada por garantias de direitos e eventualmente deficitária em matéria de respeito pelo próximo e pelo bem comum?

Aqui fica a interrogação, aberta a todas as interpretações, liberdade que não era possível antes do 25 de Abril de 1974.