Opinião

Futebol, ou a verdade do dinheiro

2 mai 2019 00:00

Portanto, um penalty será sempre penalty, mesmo que a três ou quatro metros da área, se em jogo estiverem alguns milhões de euros. Não há volta a dar.

Como a história nos tem vindo a mostrar, tudo o que envolve muito dinheiro traz ao de cima o pior da natureza humana, com a ambição e a ganância a treparem bem alto à custa dos grandes princípios civilizacionais.

Foi assim no passado, como o é hoje, com a corrupção, a fraude, o roubo e, muitas vezes, a força das armas, a mostrarem-se, sem dores de consciência, na sua conquista.

Sem ser necessário andar muito para trás no tempo, nem sequer mudar de geografia, rapidamente todos se recordarão do que levou aos graves problemas na banca portuguesa, com o BES à cabeça, o que atirou políticos como Armando Vara, Duarte Lima ou Isaltino Morais para a cadeia e o que quase fez ruir grandes empresas como a PT e a Cimpor.

Já para não falar no que esteve por trás do caos urbanístico e dos atentados ambientais que povoam Portugal de norte a sul.

O dinheiro, sempre o dinheiro. Aquilo que, por alguma razão, foi apelidado em tempos idos de vil metal, a corroer a sociedade de alto a baixo, seja na economia, na política, no ambiente, na administração pública ou no desporto, que em Portugal é praticamente sinónimo de futebol.

Não é de espantar, portanto, que o famoso Árbitro Assistente de Vídeo (VAR) pouco tenha acrescentado na resolução dos problemas do futebol português.

O jogo ficou mais verdadeiro e justo, disso poucos terão dúvidas, mas isso não teve como consequência o apaziguar dos ânimos, com os dirigentes dos principais clubes, assim como os fantoches que a soldo destes ocupam horário nobre em diversos canais de televisão, a continuarem a vomitar barbaridades, que mais não servem do que para incendiar os adeptos menos dotados de massa cinzenta e para dar um péssimo exemplo aos milhões de jovens que seguem de perto este desporto.

 

Ou seja, não há, nem haverá, tecnologia que valha enquanto os dirigentes do nosso futebol olharem para o jogo pelo funil do cifrão, sejam as receitas televisivas, sejam as contratações e vendas de jogadores, sejam ainda as celebres comissões, que em teoria só os empresários FIFA recebem, mas parecem chegar a muitos mais bolsos.

Portanto, um penalty será sempre penalty, mesmo que a três ou quatro metros da área, se em jogo estiverem alguns milhões de euros. Não há volta a dar.

O problema do futebol é que o que roda à volta do campo ganhou uma escala tal, que a dimensão do negócio deixou de ter qualquer correspondência com a simplicidade do jogo e de quem o pratica.

Falamos de muitos milhões de euros em contratos de publicidade, apostas, transacção de jogadores, direitos televisivos, merchandising, entre muitos outros negócios paralelos, nomeadamente a construção, que muitas vezes dependem de uma bola entrar ou ser defendida pelo guarda-redes.

De o árbitro apitar para um lado ou para o outro. De pormenores que parecem imprevistos, mas que já se percebeu que são muitas vezes planeados.

O VAR é óptimo para o futebol, mas não vai conseguir acabar com o que verdadeiramente é o seu problema.

*director