Opinião
Gramática da Fantasia | Encontros à roda dos livros e das artes
Faz um ano no dia em que escrevo este texto… que foi dia de piquenique de histórias com partilha de bolinhos recheados de papelinhos mágicos que inspiraram histórias de miúdos e graúdos
Era a semana da leitura, cheirava a primavera como hoje, foi numa escola da aldeia, perto dos campos do Lis, e podíamos naqueles velhos tempos estender uma manta, e estender livros, e deitar-nos em torno deles e partilhar leituras, afetos e conversa fiada…queriam mais um e mais um, e o tempo corria rápido e queríamos mais tempo e mais bolos e mais livros e mais histórias…
No dia em que o lerem fará também um ano sobre a realização do ensaio geral para uma performance coletiva que juntava, miúdos pequenos, adolescentes, comunidade, artistas e uma parceria da minha escola com o Museu Gulbenkian…havia barcos de papel e memórias, e testemunhos e muita reflexão em torno dos direitos humanos e dos migrantes… houve visitas conjuntas aos museus, construção de grupo, conhecimento do outro e do mundo à volta de uma obra de arte, ou de muitas…
Faz um ano de suspensão , como se tivéssemos hibernado projetos que implicam corpo, presença, contacto físico e calor humano…dizem que já falta pouco, que acordaremos em breve, mas somos portugueses ou perto disso e temos...Saudade…
Este ano, desde que estamos em casa, têmo-lo feito em muitas turmas de forma virtual. Eu levo livros, os miúdos e os graúdos também. Conversamos muito…quando conseguimos porque a rede nem sempre colabora. Mas o tempo corre lento e somos pacientes…esperamos, pedimos repetição, ou perguntamos se o outro ainda está ali…
Não há contacto físico, mas há muita vontade de partilhar, de conversar sobre um livro, um artista, ou uma obra de arte, há muitas saudades convertidas em empatia e o desejo de voltarmos a estender a manta ou a toalha aos quadrados, no cheiro dos fenos e no assobio dos pássaros.
Em Março celebra-se a árvore e a poesia…é o mês que nos devolve a esperança e uma nova primavera…
Diz o Afonso Cruz temos “ milhas a percorrer antes de ir dormir”.
Valham-nos o despertar, a primavera e a poesia, antes que volte a ser inverno, outra vez.
Texto escrito segundo o Acordo Ortográfico de 1990