Opinião
Guerra e alterações climáticas
O primeiro passo, o mais difícil, é “olhar para o outro como se o outro fosse eu”, como escrevia Paul Ricoeur
Meu Caro Zé, Há 8 anos o Papa Francisco publicou uma encíclica “Laudato si” que chamava a atenção, globalmente, para a urgência da mudança de comportamento da Humanidade, emergindo fortemente o conceito complexo de sustentabilidade, que devia ser tido como objetivo imediato.
Oito anos depois, o Papa Francisco, como ele próprio afirma, vê-se obrigado a publicar outro documento, “Laudato Deum”, mais incisivo e duro, em que as alterações climáticas (uma das evidências mais fortes do erro do modo como o complexo da sustentabilidade (não) está a ser o objetivo da Humanidade), aparecem como restrição imediata ao comportamento da Humanidade.
Quando se quer otimizar um objetivo não se podem esquecer as restrições que o constrangem. E não se pode atingir esse objetivo sem respeitar as restrições. É o caso das alterações climáticas, cuja situação impõe que sejam adequadamente observadas, para que o objetivo global da sustentabilidade da Humanidade (que não é separável da Natureza) possa ser alcançado.
Mas a definição da restrição não pode ser “cega”, não pode ter tal expressão que inviabilize o funcionamento global da Humanidade/Natureza e, infelizmente, não se vê que haja bom senso em torno dessa definição, quer nas metas, quer, sobretudo, nos meios e nos processos de a atingir.
A busca da definição e do cumprimento dessa restrição inadiável exige a cooperação de todos, sem exceção, sem violência, mas com tolerância, que é também reparação, com os mais “desenvolvidos” (no sentido tradicional, que tem de ser revisto) a compensarem os menos “desenvolvidos”, em qualquer dos níveis da necessária convivência humana e com a Natureza.
As preocupações aumentam, ou tornam-se mesmo dramáticas, quando nos lembramos da insistência do Papa Francisco na identificação da “Terceira Guerra aos pedaços”, com o número de “pedaços” a crescer e a dimensão de cada um deles a atingir níveis que começa a ser difícil não identificar conexão entre eles, quase sugerindo uma “guerra global em rede”.
E a guerra, cuja consequência inalienável é conduzir à morte, é em si mesma e pelas suas consequências, o maior adversário do cumprimento da tal restrição.
É isso que cada um de nós, individual ou coletivamente a qualquer nível, quer? A destruição da Humanidade? Ninguém está livre de responder. O primeiro passo, o mais difícil, é “olhar para o outro como se o outro fosse eu”, como escrevia Paul Ricoeur.
Teremos Coragem para podermos ter Esperança?
Até sempre,