Opinião
Há comunidades e comunidades!
As festas poderiam ser pequenos laboratórios de oferta
Vivemos tempos estranhos em que pastoral (atividade desenvolvida pelas Igrejas e suas pessoas e estruturas, nomeadamente a que bem conheço, a Católica), parece não conseguir superar as barreiras do tradicional instalado.
Onde anda essa evangelização (nova) que em tempos se advogava, também, para o mundo ocidental!?
Basta olhar para as regressadas festas religiosas (que, por vezes, de religioso pouco têm) e do pouco que têm de potenciamento da memória das pessoas e das gentes (além dos que se esforçam ao limite para que naqueles dias tudo aconteça) para não falar da quase total ausência de “invenção” espiritual.
Sim, acredito que as festas poderiam ser pequenos laboratórios de oferta, também espiritual e cultural (as procissões e as missas com pregações são bonitas e folclóricas, mas, e que mais!?): de outro modo ficamos ao nível de mero evento social, repetitivo, cumpridor de calendário e de tradição.
E destes até a cidade e o mundo estão a ser capazes de fugir, inventando e propondo novos acontecimentos e “marchas libertadoras”. Mesmo que para isso até a figura de santos (ou santa para o caso, de seu nome Isabel) sejam (in)devidamente utilizados.
Percebe-se que as festas religiosas criam dinamismos mas raramente a fé os colhe e os reinventa!
Mantemos “o povo” contente, meio anestesiado com esta nova normalidade em que as festas já nos são permitidas.
Começa a haver, aqui e acolá, alguns movimentos “regeneradores” de dinâmicas à procura do fazer diferente e com uma qualidade que potencie vivências comunitárias e transmissoras de memórias e de cumplicidades de futuro.
Manifestações de todo o género e feitio vão fazendo o seu caminho no espaço público, apesar da fluidez geográfica dos seus elementos ou da dispersão geográfica em que habitam.
A ser comunidade pelo que acreditam, ocupando espaços em busca da instituição transversal das suas crenças.
Pisando, é certo, algumas barreiras das convenções e tentando dar as suas bicadas noutros campos como se a liberdade que tanto alegam não lhes trouxesse também limites.
Acredito que a defesa dos nossos direitos e liberdades passa mais pela afirmação do que encontrámos como libertador do que pela afronta arruaceira de quem se quer afirmar em vez de construir e integrar.
Voltando no que à pastoral inicial era referenciado.
Cuidemos das dinâmicas com que abraçamos o mundo. Porque esse vai fazendo o seu caminho, a precisar das nossas novas ofertas, sínteses e convicções.
Quando fazemos mais do mesmo corremos o risco de eliminar todos aqueles que tentam fazer diferente.
Uns bem e outros mal, certamente.
Mas não deixemos de acreditar que o futuro merece-nos diferentes dos nossos tetravós!
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990