Editorial
Já ouviu falar em vontade política?
As políticas públicas no que ao investimento na floresta diz respeito, acabam por resvalar para a falta de estabilidade e previsibilidade
À predisposição para agir em proveito de uma causa ou interesse comum, utilizando o poder político para implementar políticas públicas de acordo com as necessidades dos cidadãos, chama-se, vulgarmente, “vontade política”. Pode ser expressa através da aprovação de leis, de regulamentos, de programas locais, municipais ou governamentais e carece, na generalidade, da alocação de recursos financeiros para a concretização das medidas propostas.
No caso da reorganização da nossa floresta, e apesar das constantes promessas (quase sempre reforçadas na época dos incêndios), continua a verificar-se a tal falta de vontade política para atacar o problema com coerência e consistência, como nos diz na entrevista desta semana o dirigente a associação Zero.
Paulo Lucas reconhece que foi alcançado algum consenso no planeamento estratégico em relação ao que deve ser feito. Mas quando se chega à parte do financiamento, percebe-se que as verbas disponíveis não são suficientes para executar o que está planeado. E porquê? Porque não há, segundo o activista, um consenso político alargado, uma espécie de pacto de regime para a floresta.
Pior. Fruto desta evidente falta de vontade política concertada, as políticas públicas no que ao investimento na floresta diz respeito, acabam por resvalar para a falta de estabilidade e previsibilidade, pois cada Governo, cada ministro, cada secretário de Estado, cai na tentação de ignorar ou deitar fora o que foi feito pelos seus antecessores, sem cuidar que é difícil, se não impossível, fazer em meia dúzia de anos o que não se fez em décadas.
Sabendo-se da necessidade imperiosa de uma continuidade das políticas nesta área tão importante para o País em geral e para a nossa região em particular, cabe também a cada um de nós exercer pressão social sobre quem tem o poder de decisão, para que deixe de se usar a questão das florestas como arma de arremesso político e se passe, de uma vez por todas, da palavra à acção concreta e continuada. As futuras gerações merecem.