Opinião
Já vos falei, ou escrevi, sobre a Marília (de Todos os Santos)?
Podemos dizer que à distância dos nossos dedos e das nossas vozes continua a estar essa possibilidade de fazermos que cada gesto nosso esteja prenhe dessa força única: capaz de fazer o bem
É provável que não. A verdade é que a experiência com a Marília me inspirou um dos principais pilares e convicções da existência. Como pessoa e como elemento a potenciar na humanidade.
Quem é ou foi a Marília. Começo por clarificar que foi. Não porque tenha deixado de existir (bendito Facebook que nos permite, também, perpetuar um quase contacto com muitos, próximos, em algum momento da vida, mas distantes na geografia a que a mesma vida obrigou). Hoje, não faço ideia se a Marília continua a ser “aquela” pessoa que conheci no final do seu curso superior em Leiria. Finalista da e na antiga ESEL. O contexto, o coro da Bênção dos Finalistas. Por aquela altura, exigência de quem promovia e lógica acatada pelos protagonistas, o coro era mantido pelos senhores e donos da festa. E a festa era dos finalistas. Coisa que obrigava, ano após ano, a constituir um coro dos finalistas desse ano. Valia o esforço!
E a Marília foi uma desses estudantes que participou e que fez a sugestão de uma música. Sim, porque também as músicas eram fruto da sugestão e das vivências. Desconhecida para quase todos os presentes e, note-se, até para quem tinha a missão de ensaiar. A música: “Fogo de Deus”. Sugestão feita. Aprovação dos pares. Rapidamente aprendida. E mais rapidamente se disseminou a partir daqueles ensaios e da bênção desse ano para muitas outras celebrações juvenis. Ainda hoje quando a ouço cantar, sei e faço questão de dizer e do partilhar. Se não fosse a Marília, este momento, e todo uma panóplia de vivências, não estaria a acontecer e não teriam acontecido.
A história remontará a 1998 ou 1999. Século passado! Mas a história da humanidade é bem mais antiga e cheia de momentos e pessoas destas. Pessoas que foram passando, com pequenos gestos e sugestões, o testemunho de muitas coisas belas e inusitadas. Tocando vidas e dando sentido a vivências bem mais profundas.
Porque por estes dias, entre ”halloweens” (dias das bruxas!!!) e Dias de Todos os Santos e de Fiéis Defuntos, acabamos por tocar no mais profundo das reacções humanas: a do espanto.
Espanto que só a dor e o terror nos cria. Espanto que só a alegria e a festa nos faz querer! Espanto que, na sua etimologia, significa uma possessão divina. Ou seja, podemos dizer que à distância dos nossos dedos e das nossas vozes continua a estar essa possibilidade de fazermos que cada gesto nosso esteja prenhe dessa força única: capaz de fazer o bem. Nestes tempos, culturalmente diversificados, somos obrigados a conviver com muitas “experiências” e a voltar às origens e explicação das festas e acontecimentos. Neste cruzamento de culturas diversas e distintas, não deixemos de sublinhar todos aqueles que, mesmo distantes da nossa vida, geográfica e fisicamente falando, ou mesmo já existencialmente, são e foram inspiração.
Mais. Celebremos o facto de podermos pertencer a esse grupo. Com palavras, actos e missões! De quem se sabe portador desse fogo que só na partilha encontra a sua verdadeira dimensão.
Obrigado Marília. Pelo fogo que espalhaste por esta Terra! Temos de marcar um café!