Opinião

Letras | A Última Pedra, Jorge Gomes Miranda

30 dez 2022 10:03

Uma missa dada por poesia, para nos dar sentido à vida

Nasceu em 1965, no Porto, cidade onde vive e trabalha.

Ex-crítico literário do jornal Público, desde cedo se fez ouvir na poesia portuguesa, destacando-se os seguintes livros: O Que Nos Protege; Curtas-Metragens; Este Mundo, sem Abrigo; O Caçador de Tempestades e O Acidente.

Organizou ainda antologias literárias e escreveu também uma novela: O Transplante. Um livro que reúne mais de 80 poemas, e onde a elegância poética de Jorge Gomes Miranda incide sobre a efemeridade da vida, o caminho para a morte e a própria morte. Não duma forma taciturna (ainda que por momentos sintamos alguma melancolia) mas dando poesia a todos os momentos que nos possam doer. Seja pela perda de entes queridos, pelo receio de os perder e também da nossa fragilidade, do envelhecimento, etc.

Não tão poucas vezes nos é oferecido o amor aos pais, o elogio formal e informal.

“Pai […] Atravessar a avenida oblíqua, como quem atravessa um rio, mão na mão, íman, longínqua.” “As Mães […] Alisam as dobras amargas […] Vivem para amar. Um destino que protege o mundo.”

Na verdade, quando chegamos ao capítulo d’A Última Pedra damo-nos conta desse mesmo elogio e um testemunho de vida perante o fim dos dias. Daqueles que tanto amamos e a emancipação da ideia de finitude, como podemos sentir nas suas últimas palavras no poema “Rumo à Floresta”.

“[…] Com o tempo as coisas pareciam adivinhar uma tristeza, mas não ainda uma amargura, sequer uma resignação. Agora possuo a desejada serenidade. A serenidade vazia.”

Em suma, uma missa dada por poesia, para nos dar sentido à vida e acolher o caminho no sentido de um fim mais ou menos distante. Com todos os temores e louvores que a ela se possa atribuir.