Opinião

Letras | Caderneta de Lembranças, A.M. Pires Cabral

20 fev 2022 15:33

Viaja pela mortalidade do poeta. Como a finitude pode ser antecipada pelos filósofos, os poetas, os bichos e Deus

A.M. Pires Cabral nasceu em Chacim, Macedo de Cavaleiros, em 1941. Licenciou-se em Filologia Germânica. Foi professor e animador cultural. Publicou vários volumes de crónicas e de ficção, tendo ganho o Prémio Círculo de Leitores, o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco e o Grande Prémio de Literatura DST.

Como poeta, estreou-se em 1974 com Algures a Nordeste e pela sua obra poética, foram-lhe atribuídos os prémios D. Dinis, Luís Miguel Nava e PEN Clube. Gaveta do Fundo recebeu a distinção de Melhor Livro de Poesia em 2013 (SPA). Está traduzido em alemão, castelhano e italiano.

Caderneta de Lembranças viaja pela mortalidade do poeta. Como a finitude pode ser antecipada pelos filósofos, os poetas, os bichos e Deus. O percurso alinha no pressuposto poético tanto de humor como a dúvida. A fábula como a alegoria. As metáforas que bem podem ser “as feras sanguinárias” domadas pelos seus amados colegas poetas.

Tudo começa no céu e ao céu torna e se é ou não com Deus, nesta caderneta explora A.M.P.C.as vicissitudes da sua própria descoberta. Começa nesse “céu” com o Regresso a Alpha Centauri, para depois se oferecer ao tempo e às estações. Às mutações dos dias, os meses num ano. No espaço terreno, dá conta dos materiais, do que é palpável, táctil, visível. Tangível. Com humor vê a fábula e o dia-a-dia a acontecer. O mundo existe e o tempo é agora. A fauna comunica, dialoga, expressa a existência. Até que chegamos aos demónios. Ao irreal talvez real, dos nossos e dos outros. Inventados ou não, para que Deus também Ele exista, ou não. Está nos filósofos e nos poetas e nos (des)crentes a razão.

A poesia busca, mas pode não encontrar uma divindade e o poeta, esse, pausando na busca dos seus semelhantes divaga

“Fica-lhes muito bem a petulância e garante-lhes uma certa eternidade. Mas, aqui para nós, aquele que nunca tropeçou no Deus em que eu a cada passo tropeço

- que atire o primeiro verso.”