Opinião

Letras | Como é que começou este fim?

9 mai 2025 08:55

O autor de Um Homem Sem Pátria partilha, num conjunto de curtos, profundos e bem-humorados ensaios, os seus desgostos e as suas indignações no contexto da América de George W. Bush

Os nossos parentes primatas foram-se adaptando muito bem a um regime alimentar quase totalmente à base de frutas e vegetais colhidos pelos próprios. Orangotangos, gorilas, chimpanzés, gibões não precisaram de aquecer as refeições e assim se têm safado lindamente.

Para os humanos não bastou a maçã crua. Eva, Adão, a Serpente, a Bruxa Má, a Branca de Neve e o Steve Jobs assim o provaram.

Friccionar pedras para obter fogo foi só um começo. Os deuses foram iluminando o percurso hominídeo, quais coachs motivacionais.

Lamparinas de azeite e candeeiros a petróleo deram luz ao infindável caminho da criatividade humana. Que o digam Thomas Edison, quando inventou a primeira lâmpada, ou Michael Faraday, criador do primeiro gerador eléctrico.

Perfuraram-se os solos e mares, ascendeu-se aos ares, aterrou-se em terrenos extraterrestres.

Uma orgia irresistível ou uma armadilha? O norte-americano Kurt Vonnegut profetiza: “Sim, estamos actualmente a gastar as últimas gotas (dos combustíveis fósseis). As luzes estão quase a apagar-se todas. Acabou-se a electricidade. Todos os meios de transporte estão prestes a parar e o planeta Terra não tardará a envergar uma costa de caveiras e ossos e máquinas mortas (…). Não estraguem a festa”.

O autor de Um Homem Sem Pátria partilha, num conjunto de curtos, profundos e bem-humorados ensaios, os seus desgostos e as suas indignações no contexto da América de George W. Bush. Alguns dos textos foram publicados pela In These Times, tendo sido os mais consultados online em toda a história da revista.

Vonnegut, nascido em Indianápolis em 1922, foi prisioneiro da Segunda Guerra Mundial, durante o bombardeamento de Dresden. Conseguiu sobreviver, com outros companheiros aliados, escondendo-se num matadouro subterrâneo de gado (experiência que o levou a escrever O Matadouro Cinco). Faleceu aos 84 anos e figura entre os grandes nomes da literatura norte-americana contemporânea, deixando um grande número de peças, ensaios, contos e romances.