Opinião

Letras | Divisão da Alegria, de Raquel Nobre Guerra

23 abr 2022 20:00

Como se divide a alegria sem que isso nos augure também uma certa ideia de multiplicação dela mesma?

Raquel Nobre Guerra nasceu em Lisboa, em 1979. É licenciada e mestre em Filosofia. Foi bolseira de doutoramento (Estudos Literários) da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Não concluiu a tese. Publicou Groto Sato (2012), prémio Primeira Obra do PEN Clube Português e Prémios Novos da Culturgest / CGD; SMS de Amor e Ódio (2013); Saudação a Álvaro de Campos (plaquete, 2014); Senhor Roubado (2016), semifinalista do Prémio Oceanos em 2017. Nesse mesmo ano foi-lhe atribuída a bolsa de criação literária da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) que apoiou a criação desta obra. Vive entre Lisboa e o Alentejo.

Como se divide a alegria sem que isso nos augure também uma certa ideia de multiplicação dela mesma? Como no meio da matemática se insurge a tristeza que também acompanha a alegria? Ian Curtis na sua melancolia alegrou tantas legiões de desafortunados e melancólicos, e a poesia tem nesse pressuposto um dever de ser directa, “Tenho saudades de quando a poesia era directa”, escreve Raquel Nobre Guerra enquanto relembra também o líder desaparecido dos Joy Divison (Divisão da Alegria).

A linguagem criativa que deambula entre a filosofia e o quotidiano desta poeta contemporânea, relembra-nos as inúmeras influências a que estamos expostos, a uma cultura pop em que também ela desdobra num sentimento pós-punk, de copos e drogas, da amizade e da inevitável perda e o sentimento depois do luto.

Obra dividida em três partes, que divide o dia em Canções da Manhã, Canções da Tarde e Canções da Noite. Agrega em último capítulo Oito Poemas Para O Pai como que não esquecendo que a alegria também pode fazer Uma Careta ao Sol quando a dicotomia da tristeza e dos opostos também se faz notar num dia bonito.

“… para sempre / nunca mais haverá língua mais exacta?”