Opinião

Letras | Gramática da Fantasia - Sinopse de Amor e Guerra

20 mar 2022 17:10

O Afonso Cruz faz beleza com as palavras… Escreve uma poesia bonita e filosófica em prosa e que nos faz sempre pensar em mais além do que está escrito

Ofereceram-me mais um Afonso Cruz no Natal. O mais recente. Sinopse de Amor e Guerra. Curiosamente comecei a lê-lo na noite que estourou este mundo novo e muito mais feio do que há 20 dias atrás no dia em que escrevo este texto. Li-o num só fôlego em poucas horas, e veio mais uma vez mostrar-me que são os livros a vir ter connosco quando o universo entende, e que fazem sempre sentido em conformidade com o tempo em que se vive.

Curioso como no dia em que os céus se voltam a turvar com a guerra, o Afonso Cruz me lembra a história de um muro construído de forma súbita e hedionda por causa da ira dos homens… Reli-o mais uma vez nos dias seguintes sorvendo e anotando passagens bonitas, tentando encontrar beleza nos momentos em que o inusitado de uma guerra que nenhum de nós quer nos invadia as noites, e os dias, as conversas e semeava medos e estupefação. A barbárie…

O meu Sinopse de Amor e Guerra está sublinhado em quase todas as páginas e dobrado num cantinho, assim no vértice da folha do lado direito… Costumo ler sempre com um lápis de grafite por perto, para ir anotando momentos bonitos, ou feios, ou que me façam sentido. Parte da trama fez-me lembrar A Sombra do Vento de Carlos R. Zafon, se calhar nem nunca o Afonso Cruz leu Zafon, mas isso também não interessa para nada…

Em Sinopse de Amor e Guerra, um rapaz franzino apaixonado por livros, dedica o coração e a alma a uma miúda mais velha, partilham o amor pelos livros e pelas conversas intermináveis… depois há uma guerra estúpida e um muro, que os separa inusitadamente, mais do que outros rapazes que se meteram pelo caminho e pela trama. O meu livro está marcado e sublinhado tantas vezes, porque a meu ver o Afonso Cruz faz beleza com as palavras… Escreve uma poesia bonita e filosófica em prosa e que nos faz sempre pensar em mais além do que está escrito…E porque nos dias que vivemos precisamos mais do que nunca de vez beleza nas pequenas grandes coisas, de nos abraçar, de nos unirmos pelas causas, de sorrir, de estabelecer carinho e empatia com quem nos vamos encontrando pelo caminho…

Com o Afonso Cruz, tenho andado a ler o António Damásio (O Livro da Consciência, Sentir e Saber, O Erro de Descartes) e também o Livro do Chá de Okakura Kazuzõ… tenho vários livros espalhados ora no carro, na carteira ou na mesinha de cabeceira, que vou lendo no meu tempo e conforme nos cruzamos, e que me fazem pensar cada vez mais que somos todos feitos de muito mais que razão e que são os afetos que nos fazem agir, relacionar e ser… Nestes dias que nos assolam que poderemos dar mais do que empatia sinónimo de um conjunto lato de ações inerentes? Que nos conforte a magia das coisas bonitas, da poesia às ações, na esperança de termos sempre a força redentora do amor… seja lá o que isso for…

Quanto ao Afonso Cruz não vou desvendar o final… Não quero ser spoiler como se diz por aí, convido-vos a ler e a sublinhar o vosso exemplar, se vos apetecer, e no final, bem no final... dizem que o amor vence tudo…mas atentem no PS: não me responsabilizo que vão gostar ou não dos meios usados para atingir os fins… Boa semana a todos e se puderem devolvam um sorriso com o coração, ou um bom dia aos com quem se cruzam no caminho.