Opinião

Letras | José Manuel Gonçalves (2024), Pinhal do Rei – Casas de Guarda e Outros Edifícios Florestais OU a memória do património

5 fev 2025 07:16

Restaurar, conservar os edifícios de maior relevo e/ou orientá-los para uma nova visibilidade cultural e patrimonial como elementos do esperado Museu da Floresta, é uma missão de futuro para todos nós

Quando em 2020 o estudo/monografia Pinhal do Rei. Casas de Guarda e outros edifícios florestais, de José M. Gonçalves, ganhou o prémio Villa Portela (de periodicidade bienal, ‘destinado a incentivar a criação de trabalhos de investigação sobre a História Local e o Património do distrito de Leiria e concelho de Ourém’), foi justamente destacado pelo tema escolhido e a capacidade de o tratar detalhadamente, a elevada relevância do tema para o património histórico e cultural da região, bem como pelo facto de a maior parte dos objetos de estudo se terem perdido ou estarem em risco de se perder. Vivia-se, então, o estranho tempo do confinamento: ficou inédito...

Resultado de uma investigação feita em arquivos ou bibliotecas e estudo de vasta bibliografia, facto é que o ICNF – principal instituição detentora de informação diretamente relacionada com o tema da monografia – colocou, à época, vários entraves à consulta da documentação relativa aos tópicos tratados. Assim, só numa segunda fase foi desbloqueado o acesso a uma vasta documentação presente na biblioteca do ICNF/DRCNFC na Marinha Grande, espólio documental florestal transferido para o Arquivo Municipal da Marinha Grande, e o estudo foi enriquecido com várias fontes (de que se destacam os Inventários da Administração dos Reaes Pinhais (Pinhais Nacionaes) de Leiria, a partir de 1838) – daí resultou o atualizado livro publicado em novembro de 2024 pela Hora de Ler, com os apoios da Fundação Caixa Agrícola de Leiria e a Câmara Municipal da Marinha Grande.

O livro descreve e caracteriza pormenorizadamente as Casas de Guarda – do Depósito; dos Calvos; do Forninho; do Talão 1; da Praia; do Mourão; da Serraria; dos Caminhos de Carvide; da Água Formosa; Nova da Louçã; da Mioteira; da Cabeça Louçã ou do F; do Talhão 91; do Pilado; do H; da Cova do Lobo; do Sanguinhal; da Garcia; do L; de Pedreanes; do M; do N; das Gaeiras; da Portela; da Guarda Nova; do Seis; do Rio Tinto ou da Cova da Moira; da Queimada; de S. Pedro de Moel; do Tromelgo; da Sapinha; da Lagoa Cova; do Facho; do Pinhalinho – muitas delas em ruínas (por falta de manutenção ou ardidas no grande incêndio de 2017, que desvirtuou o que restava do de 2003…), mas nenhuma delas na sua função original de casas de habitação dos guardas florestais (dado que o Corpo Nacional de Guardas Florestais foi extinto em 2006). Uma a uma, estas 34 casas de guarda vão sendo sistematicamente descritos, acompanhadas por fotografias inéditas do autor e todas as referências legislativas que lhe dizem respeito.

Pormenorizadas e históricas, são as referências a outros edifícios florestais – os do Parque do Engenho; a Real Fábrica da Madeira, sua Capela e o Engenho de Serrar; a Fábrica Resinosa; os primitivos edifícios da Administração e Residência; a Serraria Mecânica; o Viveiro Florestal; a Fonte do Engenho; os Pontos de Vigia (da Resinagem, da Ladeira Grande, da Boavista, Ponto Novo, da Crastinha, do Facho, dos Outeiros); o Chalé das Matas em S. Pedro de Moel; a sede dos Serviços Florestais na Marinha Grande; o edifício da Fábrica da Resinagem; a estação do Caminho-de-ferro Americano; as Tercenas da Vieira – a ter em conta daqui para a frente como fundamentais em qualquer investigação histórica, social, económica, cultural e patrimonial.

Restaurar, conservar os edifícios de maior relevo e/ou orientá-los para uma nova visibilidade cultural e patrimonial como elementos do esperado Museu da Floresta, é uma missão de futuro para todos nós. José Manuel Gonçalves recolocou-os na nossa memória patrimonial; agora há que voltar a dar-lhes vida em função dos valores atuais. Para que o ‘Pinhal do Rei’ volte a crescer.