Opinião

Letras | O anjo do ocidente à entrada do ferro, Natália Correia

23 fev 2024 09:00

Poemas jocosos e taciturnos, com a densidade profunda e o estilo verbalmente exímio

Natália Correia (1923-1993), mulher de paixões, casou quatro vezes ao longo dos seus 70 anos. Fez televisão, foi jornalista, dramaturga, poetisa e estreou-se na ficção com o romance infantil Aventuras de um Pequeno Herói, em 1945. Nasceu nos Açores em 1923 e aos 11 anos desloca-se para Lisboa. Foi jornalista no Rádio Clube Português e colaborou no jornal Sol. Ativista política: apoiou a candidatura de Humberto Delgado; assumiu publicamente divergências com o Estado Novo e foi condenada a prisão com pena suspensa em 1966, pela Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica.

Neste edição da Tinta da China revisitada da obra de 1973, brinda-nos com a antítese de poemas jocosos e taciturnos, com a densidade profunda e o estilo verbalmente exímio. Vislumbra o passado e a catástrofe da história desejando acordar os mortos, tentando juntar os resquícios mas a tempestade do progresso impele-o para o futuro.

Nas viagens pela a américa em 1951 não gostou do que viu. Conheceu-se aí europeia, entusiasmando-se com a beleza e a natureza, o cosmopolitismo e a liberdade. Porém nas viagens pela Europa duas décadas depois “num horizonte de canções blindadas cantava a parábola das cidades brancas cobertas por noites laboriosas de formigas”, desencanta-se. Incomoda-se com o economicismo, a tecnocracia, e a homogeneização, tornando-se eurocéptica. Mas no choro nota-se poeta e num pranto portuguesa.

“Percebi finalmente que Portugal era eu a chorar trevos de cinza pela Europa”.