Opinião

Letras | Os 50 anos de jornalismo do Senhor M. J. Pascoal

7 fev 2025 07:30

São quase 400 páginas de crónicas, notícias comentadas escritas para jornais locais e nacionais. Um completíssimo documento de História Local

Esteve patente durante o mês de janeiro na galeria do Turismo uma exposição de fotografias a preto e branco da autoria do Senhor Manuel Jerónimo Pascoal, por iniciativa de seu filho, Rui Pascoal, de forma a assinalar o centenário do nascimento do pai.

Primorosas as fotografias (eu que nada sei de fotografia), criteriosa a escolha, mais houvera para ver – encantar-me-ia, por sensível que sou aos registos de que se faz a História. A minha ignorância não se fica pela arte da fotografia: desconhecia em absoluto o trajeto jornalístico do fotógrafo homenageado. Numa pequena vitrine com alguns objetos pessoais havia um livro de sua autoria: Recortes de uma Paixão – Testemunhos de 50 anos de jornalismo. Um saltinho à Biblioteca Municipal a requisitar o livro e o espanto foi muito maior do que o do visionamento das fotografias.

São quase 400 páginas de crónicas, notícias comentadas escritas para jornais locais – Região de Leiria principalmente – e nacionais: Diário de Lisboa e Jornal de Notícias este último durante 45 anos. Muito bem escritas, muito bem fundamentadas, sustentadas por intencionais descrições ambientais, socioculturais e históricas, entre 1945 e 1998.

Criteriosamente separados por diversas áreas temáticas, os textos selecionados pelo autor são apresentados cronologicamente dentro de cada uma. Sem espaço para nomeá-las todas, referirei as que achei mais apelativas: Política/economia (pp 53-99) com os empolgantes registos das visitas a Leiria do General Humberto Delgado em Maio/58; de Mário Soares, em Março/75; e do Presidente Eanes em Janeiro/81; com o tom inconformista de “Leiria acomodada vê passar os comboios…” de Dez/84, tom que se repete na secção Cultura (pp 103-131) onde aponta as carências mais básicas quer da cidade, quer das zonas rurais (Julho/77); e se vai repetir na secção Ensino (pp 169-184) onde menciona as “Carências numa arte” – a de ensinar com as falhas de que sofria e onde regista o desnorte pedagógico vivido no Liceu de Leiria nos anos do pós-25 de Abril que deu azo a uma polémica troca de textos entre o jornalista e a direção do Liceu.

As secções que mais me prenderam, a mim, leiriense que não sou, foram Região (pp 295-319) – esta especialmente pelas notícias de Março/49 sobre a notável Biblioteca de Instrução e Recreio da Praia da Vieira que, ainda nesse ano, lutava pela criação de uma Escola Primária (aquela que eu, pessoalmente, vim a frequentar em 55/56…); e Leiria (pp 187-278) na qual, (anos 70) enquanto nos informa sobre as razões da mudança do feriado municipal para 22 de Maio, sobre a história/tradição do popular Bairro dos Anjos, ou a realização da elaborada exposição O Saque de Leiria, critica a ausência de uma piscina municipal, a não criação do Museu de Leiria, a vergonha dos transportes públicos, a incompreensível retirada de serviços regionais, a poluição do rio, a deficiente urbanização da cidade, o pandemónio do Mercado Municipal, o atavismo que impedia as melhorias necessárias à cidade.

Um completíssimo documento de História Local.