Opinião
Letras | Os Mumins e a Grande Cheia, Tove Janson
Esta obra busca na emoção e na simplicidade da mensagem, as questões de fundo que nos ligam como seres humanos
Esta obra insere-se num conjunto de livros escritos e ilustrados para crianças. Como na obra de Antoine-Marie-Roger de Saint-Exupéry O Principezinho, esta obra também busca na emoção e na simplicidade da mensagem, as questões de fundo que nos ligam como seres humanos. Coincidentemente ou não, ambas escritas em período de 2ª Guerra Mundial, e em que ambas buscam o final feliz, num tempo de trevas, e sendo tão importantes para crianças como para adultos.
Conheci esta obra por intermédio de amigos finlandeses, que me transmitiram a dureza da sua história moderna, nomeadamente na relação com o país vizinho, a Rússia, e na amargura face a regimes fascistas. Hoje em dia, sendo um dos países escandinavos com melhor qualidade de vida, vive também da ameaça latente da Rússia.
Este livro traz também a certeza de que o ser humano, ainda que caracterizado por personagens irreais e metafóricas, traz por via da candura a mensagem infantil a todos, como se estivéssemos a falar com uma criança de cinco anos. Quando a infantilização do horror se espalha por redes sociais e alguns meios de comunicação social, há que ler também na inocência dos gestos, um caminho de bondade que ainda existe no ser humano. Há uma promoção do medo como móbil para as acções dos governantes e outros interesses mais sombrios, mas há também no gesto humano pueril, a esperança.
Este livro traduz as acções de bem e da esperança, numa mãe troll, que nas grandes cheias perdem tudo, além do desaparecimento do pai troll. A busca apesar das adversidades, a esperança apesar de cada contrariedade, a debandada duma terra que já não é nossa, representa muito das coisas boas e más que muitos seres humanos vivem na actualidade.