Opinião

Letras | Uca – Ana Sofia Elias

24 jan 2025 08:44

Temas próximos à condição da mulher contemporânea, quer de saúde física e mental, da sua liberdade, e do amor cósmico a todos os seres são alvo de tentativa de descodificação através da poesia

Primeiro livro desta autora de Leiria, com raízes dispersas entre a cidade do Lis, Trás-os-Montes, Londres e Vénus. Há 15 anos residindo em Londres, encontra à distância a proximidade que só a saudade permite. Ser-se luso-anglo-saxónica, e plasmar das ideias e das vivências para a escrita deste Uca, a(s) mulher(es), perturbações, amor-erotismo, música, dança, as relações, o amor aos pais, etc.

Uca é um género de pequeno caranguejo, também conhecido por caranguejo-violinista, e que comunica através duma sequência de ondas e de gestos, tendo uma pinça maior em relação à restante morfologia, parecendo tocar violino.

Das cores que poderão aproximar-se do alaranjado, este terá um padrão rosado por uma provável timidez que nesta obra sobressaia. Poderia ser síndrome de impostor que abala os verdadeiros artistas, e ainda que se declare como escritora amadora, encontra em nome próprio o seu caminho. Uma cientista pop das vertigens femininas.

Não tem veleidades na cultura pop-alternativa, e dança entre a Barbie e a emancipação pelo erotismo da mulher. Referências ao longo do livro a Clarice Lispector, Sophia de Mello Breyner Andresen, Paula Rego, etc. são bem exemplo disso.

“I look like a Barbie / but feel like a poet”

Na sua persona poética, e no meio desse fogo em cor-de-rosa Barbie, bate um coração de mulher que corre descalça sem medo do chão.

“Pornográfico / é não fazer amor contigo” (Raquel Serejo Martins)

Temas próximos à condição da mulher contemporânea, quer de saúde física e mental, da sua liberdade, e do amor cósmico a todos os seres são alvo de tentativa de descodificação através da poesia. A língua inglesa e portuguesa ganham espaço sem se atropelarem, e com a música, serem a resolução de expressão. Pontes entre o entendimento e o fogo. O amor e a cura. As várias famílias e tribos. As relações em vários cosmos.

O feminino ganha ainda mais volume no hino cantado à mãe. Todos somos filhos duma mãe, e o milagre da existência vem daí.

“Sigo-te estática em adoração.”