Opinião

Matamos os velhos antes dos velhos morrerem

25 ago 2023 10:24

Na fase da vida onde deveríamos dar-lhes o máximo apoio, companhia e respeito, acabamos por dizer-lhes que o único caminho é o isolamento e a morte

Os cientistas dizem-nos que a possibilidade de vivermos até aos 150 anos de idade não está assim tão longe. Os enormes avanços na medicina fazem com que a esperança média de vida aumente de dia para dia.

Até aqui podemos considerar que são boas notícias para todos nós, mas será que os comportamentos sociais conseguem acompanhar este avanço galopante? Provavelmente não.

O Ser Humano não está preparado para se relacionar e respeitar os mais velhos e talvez por isso os olhe com desprezo e afastamento, principalmente se os mais velhos já estiverem com alguma incapacidade física ou mental.

O número de idosos que chegam aos hospitais e são abandonados pelas famílias aumenta nas férias e épocas festivas. Vários hospitais relatam situações de familiares que dão “frequentemente” dados incorretos, moradas e números de telefone falsos que obrigam os serviços a fazer um “trabalho policial” para os localizar.

Pessoas velhas que são deixadas ao abandono pelos seus familiares, um número que não para de aumentar e que este ano atingiu um máximo histórico: mil pessoas já tiveram alta hospitalar, mas mantêm-se numa cama de hospital.

Dados demasiado tristes e que nos deveriam envergonhar a todos, principalmente aos governantes que deviam criar o máximo de soluções para que nenhuma destas pessoas chegue ao fim da vida sem o mínimo de condições dignas. Matamos os velhos antes de os velhos morrerem.

Na fase da vida onde deveríamos dar-lhes o máximo apoio, companhia e respeito, acabamos por dizer-lhes que o único caminho é o isolamento e a morte. Esta mudança de pensamento e atitude pode começar na escola e nas tão importantes aulas de educação para a cidadania.

A escola constitui um importante contexto para a aprendizagem e para o exercício da cidadania. Uma tomada de consciência dos alunos e daqueles com quem interagem, onde os valores da igualdade, democracia e justiça social sejam referência base nas suas atitudes e comportamentos.

Talvez assim possamos ambicionar a uma sociedade que respeite os mais antigos e que os apoie nas suas fragilidades e equívocos. Estar mais perto, escutar, abraçar e outros tantos gestos simples que facilmente nos esquecemos de fazer.

Se assim não for, o prolongar da vida deixará de fazer sentido e os cientistas estarão a encontrar a fórmula para a tristeza e não para a felicidade plena.