Opinião
Mudar de Rumo – Comunicação Social
E claro que o grande problema da comunicação social portuguesa resulta de termos um mercado constituído por uma população pouco exigente e uma oferta que se adapta de forma primária a essa pouca exigência
O tema da comunicação social e a sua relação com a governação nos países democráticos tem sido abundantemente tratado por especialistas e pela sua complexidade não é fácil de enquadrar, nomeadamente no caso português.
Apesar disso, arrisco algumas observações que radicam na experiência que o contacto de muitos anos com a comunicação social justificam. Como ponto de partida acredito que os factores mais relevantes quando está em causa a comunicação social serão o pluralismo informativo e a contribuição para a formação cultural e cívica dos cidadãos, sendo que em ambos os casos as falhas existentes em Portugal são demasiado evidentes.
Os meios de comunicação, em especial a televisão, estão muito dependentes de interesses económicos pouco diversificados e das opções dos partidos políticos e dos governos, cujo poder se exerce nas redacções em defesa do status quo e abomina a diferença e o jornalismo livre, nomeadamente de investigação, reagindo de forma negativa a tudo o que pode colocar em causa os poderes estabelecidos, poderes que envolvem os partidos, os governos e os mais diversos grupos de interesses, bem como personalidades oriundas da comunicação social e da política.
O factor económico tem naturalmente muita importância e a crise reduziu substancialmente a qualidade da comunicação social em todos os planos. A redução do número de profissionais mais antigos e mais qualificados por razões económicas e a abundância de estagiários jovens mal pagos, que entretanto surgiram saídos das escolas de jornalismo, teve efeitos muito perversos na qualidade dos diversos meios de comunicação, ainda que alguns jornais, tanto nacionais como regionais, mantenham a colaboração de personalidades qualificadas que, de alguma forma, salvam a qualidade média da nossa comunicação social escrita.
O que acontece também, ainda que em muito menor escala, na televisão, onde a par de comentadores sobreviventes de outros tempos com qualidade, a maioria representa agora uma feira de vaidades que não ultrapassa o círculo restrito dos grupos de amigos. Num meio muito pequeno como o nosso, principalmente quanto à variedade das opções informativas, vejo com bons olhos a existência de órgãos de comunicação públicos a par dos privados, já que ambos os modelos têm limitações e por isso a interacção entre ambos os sistemas é benéfica para a variedade informativa e formativa.
O que é mau é a hegemonia partidária na comunicação social, tanto quanto lamento o domínio de grupos sociais ligados a interesses, como acontece, por exemplo, com o domínio do futebol em toda a comunicação social portuguesa, onde a existência do interesse popular não pode justificar a ocupação maciça dos tempos e dos espaços de comunicação.
Entretanto é claro que o grande problema da comunicação social portuguesa resulta de termos um mercado constituído por uma população pouco exigente e uma oferta que se adapta de forma primária a essa pouca exigência, criando um círculo vicioso de influência mutua altamente negativa. A que se junta o hábito nacional de consumir sem grande critério e de aceitar passivamente e sem reclamar a má qualidade do que é fornecido, mesmo quando essa má qualidade é percebida. Acontece com a televisão, jornais ou com qualquer restaurante ou supermercado.
A conclusão que se pode retirar com alguma facilidade é a de que os meios de comunicação portugueses, com honrosas excepções, não contribuem minimamente para a elevação da qualidade da informação, do gosto e da cultura dos portugueses, bem pelo contrário, uma boa parte contribui bastante para a desinformação e o embrutecimento de amplos sectores da sociedade. Ou seja, se não for na família e na escola que a elevação do nível formativo, informativo e cultural dos portugueses se exerça, não será certamente na comunicação social que isso possa acontecer.
*empresário