Opinião
Música fora de caixa
"Blutt", do violoncelista californiano Patrick Belaga, é uma viagem onde cabe a música neoclássica, o minimalismo repetitivo e a música electrónica
Este mês trago-vos aqui mais cinco recomendações de discos que não se gastam nem se deslindam na primeira audição. Esta é apenas uma das muitas virtudes da música que se vai produzindo fora do circuito mainstream.
1 - "Zomia Vol.1", de Kink Gong, projecto de Laurent Jeanneau, reúne um conjunto de temas experimentais que resultam da manipulação das gravações de música étnica que o autor levou a cabo entre 2001 e 2014 nas zonas mais remotas do Camboja, Laos, Vietname, Tailândia e China, e que posteriormente editou em cerca de 160 CDr.
À genuinidade ancestral dos intervenientes previamente registado acresce a genialidade "plástica" que o autor confere à sonoridade de cada peça, transformando este disco num clássico imediato, vanguardista e místico em simultâneo.
2 - "Blutt", do violoncelista californiano Patrick Belaga, é uma viagem onde cabe a música neoclássica, o minimalismo repetitivo (não tão repetitivo, ainda assim, como o termo pode aludir) e a música electrónica. Uma sonoridade bem doseada, feita por camadas, tão bela quanto misteriosa, intuitiva e imagética.
3 - "Chevaliers", dos franco-israelitas Winter Family, é um álbum que tem "apenas" dois temas, cada um deles com mais de vinte minutos de duração.
A dupla, formada por Ruth Rosenthal e Xavier Klaine, usa um órgão de tubos gravado na igreja de St. Martin, em Maxéville, na qual sussurram uma narrativa, por vezes imperceptível, em jeito de spoken-word, que acaba por conferir à obra uma aura inusitadamente poética. Belo, hipnótico e, quando menos esperamos, deliciosamente assustador.
4 - "Fold/Unfold", da dinamarquesa Katrine Grarup Elbo, mostra-nos nove momentos em que a compositora esgrime o seu violino munido de efeitos, criando peças electroacústicas, ora densas, ora suaves, mas sempre contemplativas.
5 - "Neues Boot" é a mais recente colaboração entre o mítico compositor germânico Asmus Tietchens e o japonês Miki Yui, um artista multidisciplinar a residir em Dusseldorf há mais de 20 anos.
As setes peças deste álbum foram "construídas" por Tietchens a partir de uma estrutura sonora previamente composta por Yui. O resultado é um exercício estético ambiental/experimental, mais próximo da desconstrução do que do ready-made, que nos envolve numa massa densa de sons que torna a sua audição numa experiência verdadeiramente imersiva.