Opinião
Música | A música country de Beyoncé
Beyoncé consegue sempre surpreender enviando o óbvio e o convencional às urtigas. E mesmo assim gerar milhões de dólares
Noventa e nove nomeações e trinta e cinco Grammy(s) depois, Beyoncé vence pela primeira vez o prémio principal com Cowboy Carter na categoria Álbum do Ano. Nesta edição ainda venceu o Melhor Álbum Country e ainda Melhor Performance de Dupla/Grupo Country com a artista Miley Cyrus pela canção "II Most Wanted".
A cerimónia anual dos Grammy Awards voltou a ser marcada pela polémica, desta vez a cargo do casal Kanye West e Bianca Censori com a australiana a posar nua com um vestido totalmente transparente. Golpes de publicidade para criar barulho, reach e engagement, e gerar milhões de dólares, parece-me óbvio. Mas vamos ao que interessa.
Lemonade (2016) e Renaissance (2022), os dois álbuns anteriores de Beyoncé já tinham mostrado uma linha criativa bastante arrojada, mas agora com Cowboy Carter (2024) a artista desafia alguns géneros musicais, nomeadamente o country, alargando as suas fronteiras para territórios do R&B, gospel, pop, rock, ópera e eletrônica. Beyoncé está longe de ser pioneira em baralhar os géneros musicais, mas ao fazê-lo, o alcance é sempre maior – podíamos estar a falar de uns King Gizzard & the Lizard Wizard, mas trata-se de Beyoncé, a dona disto tudo.
Cowboy Carter é um excelente disco, artisticamente complexo, que contou com a colaboração de muita gente famosa como Stevie Wonder, Nile Rodgers, Jon Batiste, Pharrell Williams, Raye, Post Malone, Miley Cyrus, Willie Nelson, Dolly Parton e Linda Martell. Rodeada também pelos melhores técnicos e produtores, Beyoncé consegue sempre surpreender enviando o óbvio e o convencional às urtigas. E mesmo assim gerar milhões de dólares. Aquela conversa antiga da “Música Alternativa” e “Música Comercial” não cola com artistas como a Beyoncé. Aqui tudo é comercial e muito alternativo.
A partir de abril, Beyoncé entra em digressão e ao que parece não passa por Portugal. Para já estão marcados concertos nos Estados Unidos, França e Inglaterra. A corrida aos bilhetes já começou, claro.