Opinião
Música | A música em Pedro Almodóvar
Para Pedro Almodóvar o fim não tem de ser a preto e branco. E Alberto Iglesias sabe disso
No passado sábado à noite fomos ver O Quarto ao Lado, o novo filme de Pedro Almodóvar e saímos de lá em silêncio. Poderíamos ter saído em lágrimas, mas não foi por aí que o realizador quis ir para contar uma história dramática. Silêncio esse que ainda durou algum tempo, até entrarmos no carro e na rádio começar a tocar a música “Where is My Mind” dos Pixies. Levantei o volume e assim fomos até casa: “With your feet on the air and your head on the ground, Try this trick and spin it, yeah, Your head will colapse And there's nothing in it, and you'll ask yourself”. Não sei explicar, mas naquele momento, entre as luzes da noite na cidade, pareceu-nos a música perfeita para quebrar o silêncio e começarmos a falar sobre o filme, que nos arrebatou com a sua beleza e profundidade.
Entre tantas coisas boas que este filme tem, a música de Alberto Iglesias é mais um elemento de extrema importância numa narrativa que fala sobre a morte. Almodóvar recorre ao seu compositor de sempre, autor de outras bandas-sonoras como Fala com Ela, Tudo Sobre a Minha Mãe, Dor e Glória ou Volver. Neste The Room Next Door, Iglesias tinha o desafio de compor pela primeira vez para um filme de Almodóvar em inglês, o que não parecendo, torna tudo diferente. As suas peças, desta vez, não iam viver lado a lado com boleros, música popular ou flamenco.
Em nenhum momento a música de Alberto Iglésias apela à lágrima; apenas ajuda a contar bem, muito bem, a história de uma mulher doente que pretende morrer com dignidade, tendo ao seu lado uma amiga de longa data. A música vai pautando os diferentes momentos dramáticos, estabelecendo uma ligação do espetador com as personagens, sem qualquer tipo de manipulação emocional exagerada. E isso é obra. Uma obra-prima, diria eu. Curiosamente, existem comédias de Almodóvar com mais momentos de tristeza, onde a música de Chavela Vargas ou Luz Casal, por exemplo, provocam mais dor e intensidade dramática.
Para Pedro Almodóvar o fim não tem de ser a preto e branco. E Alberto Iglesias sabe disso.