Opinião

Música | Angelo Badalamenti

20 dez 2022 17:12

Sem Angelo Badalamenti não teria sido possível a David Lynch criar as obras-primas que criou

Agora que as séries televisivas estão tanto na moda, sendo cada uma melhor do que a outra, e que tantas vezes ouvimos dizer “aquela” é a melhor série de sempre, esquecemo-nos que há muitos anos, talvez por volta de 1990 ou 1991, passou na RTP, às quartas-feiras (?), essa sim, a melhor série de todos os tempos: Twin Peaks, uma obra de arte assinada por David Lynch e Mark Frost, com a sublime banda-sonora de Angelo Badalamenti, que faleceu por estes dias aos 85 anos.

Twin Peaks, a pequena cidade misteriosa, que acordou um dia com um crime horrendo de uma bonita jovem de 17 anos, chamada Laura Palmer, tinha também ela uma música misteriosa. Até hoje, a música de Twin Peaks remete-nos para uma encruzilhada de personagens excêntricas e situações inexplicáveis, que tanto serve a ficção como a própria realidade. Angelo Badalementi, ouvindo David Lynch, conseguiu criar algumas das bandas sonoras mais marcantes da história do cinema. Twin Peaks terá sido a mais famosa, mas não esqueçamos Blue Velvet, Mulholand Drive ou The Straight Story, bandas-sonoras muito escutadas por estes lados.

Nas redes sociais circula um vídeo com o compositor Angelo Badalamenti a explicar, tintim por tintim, como surgiu o tema de Laura Palmer e logo ficamos a perceber a sintonia entre o compositor e o realizador David Lynch, uma dupla genial que se desfaz agora com a morte de Badalamenti. Fica a música, como se costuma dizer nestas ocasiões, e a certeza de que sem Angelo Badalamenti não teria sido possível a David Lynch criar as obras-primas que criou.

Nina Simone, Nancy Wilson, Shirley Bassey, David Bowie, Paul McCartney ou Marianne Faithfull, foram alguns dos músicos que contaram com a preciosa colaboração de Angelo Badalamenti, um compositor que não se fechou no universo de David Lynch e que chegou a trabalhar noutras bandas-sonoras como The Wicker Man (2006), de Neil LaBute, ou Pesadelo em Elm Street III (1987).

Mas será sempre ao lado de David Lynch, em salas decoradas com cortinas vermelhas e jukeboxes, que o iremos recordar.