Opinião

Música | As listas

12 jan 2020 20:00

Ali, no Facebook, ainda se comentam as listas dos melhores do ano e eu simplesmente adoro.

Adoro listas, ver os melhores do ano para as publicações nacionais e internacionais, mas principalmente gosto de saber a opinião deste e daquele amigo.

Falo no Facebook, uma vez que já lá vai ao tempo quando este tipo de conversa se dava no café ou no muro do Centro Comercial D. Dinis.

Claro que, nesta época do ano, há muita gente boa a fazer batota: anda-se o ano todo a ouvir a Rádio Comercial ou a M80 e chega-se a esta altura e é ver as listas com as bandas indie do momento ou com aquele projeto fora de série, super arrojado, que vem na Wire, mas que ninguém ouve.

Depois, estamos num tempo, onde não se percebe bem o que realmente é ouvido com atenção – facilmente pulamos de uma música para a outra, as plataformas dão prioridade aos temas hit e, álbuns que é bom, pouca gente os ouve de fio a pavio (eu desliguei no Spotify a opção de continuar a ouvir música semelhante para não me confundir, senão já não sei a quantas ando…).

Voltando às listas e numa visão panorâmica da coisa, constato que faço parte do mainstream e também eu não ouvi muito além do que foi publicado, isto no que toca a discos de 2019, atenção!

É que ouvi muito mais música dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX do que propriamente do século XXI – coisas da idade. Mas ouvi boa música nova, sim, mas não ao ponto de fazer uma lista com 20 álbuns do ano, muito menos listá-la por género ou nacionalidade.

Fiz uma playlist no Spotify com dez temas de dez discos que ouvi e gostei, e todos eles aparecem na generalidade das listas. Destaco o disco Remind me Tomorrow, de Sharon Van Etten, talvez o mais ouvido por estas bandas – um disco muito bom.

Por outro lado, há os discos que aparecem nas listas, que até ouvi, mas que não me entusiasmaram: o novo dos RIDE e The National, o novo do Nick Cave – primeiro estranhei, depois parece que gostei, mas passadas umas quantas audições desisti.

Desisti do disco e de ir ver o concerto no Altice Arena. As listas também facilitam muito a vida a quem anda distraído com os lançamentos ao longo do ano: “olha, nem sabia que o Cass McCombs tinha um disco novo?” ou “ai, esta canção dos Capitão Fausto é nova?

Boa, vou ouvir o resto do disco…”. Portanto, é muito natural que se comece o Ano Novo a ouvir os discos do ano anterior, os tais recomendados e que nunca tínhamos ouvido falar, e assim andamos em constante delay – falo por mim, claro.

E se, há uns anos, a tendência era estar sempre em cima das novidades, hoje, com o acesso a toda a música existente através de um simples clique, a tendência é ouvir os álbuns e discografias que sempre quisemos ouvir ou descobrir música de épocas passadas, tão ou mais moderna, do que se vai ouvindo agora.

Ou até mesmo podermos, finalmente, ouvir aqueles discos dos anos 80 dos quais apenas conhecemos os êxitos - ainda um dia destes estive a ouvir as dez canções de Forever Young, dos Alphaville.

Um mau exemplo, eu sei. Desejo a todos um 2020 de alta fidelidade!

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990