Opinião

Música | Bad Seeds

5 abr 2024 09:00

Tantos anos depois, é bonito olhar para as carreiras dos músicos que passaram pela banda de Nick Cave e constatar que todos eles têm trabalhos de altíssimo nível

From Her to Eternity, o primeiro disco de Nick Cave and the Bad Seeds, terá sido o “objecto” mais estranho a testar seriamente pela primeira vez o aparelho de alta fidelidade lá de casa. Estávamos nos finais dos anos 80 e a música que rodava até essa altura alternava entre os Supertramp, Pink Floyd, Dire Straits e outros sucessos “prontos a levar” nas duas ou três discotecas da cidade – lojas de discos, entenda-se. Deu-se um ponto de viragem com a entrada dos Bad Seeds em cena. A partir daqui, o preto passou a ser uma cor muito apreciada por estes lados.

Tantos anos depois, é bonito olhar para as carreiras dos músicos que passaram pela banda de Nick Cave e constatar que todos eles têm trabalhos de altíssimo nível e que tanto nos Bad Seeds, como noutros projetos, a música produzida por esta boa gente continua a fazer mossa. Em breve, poderemos testemunhar isso mesmo, em Leiria, com um ex-Bad Seeds a tocar no Teatro José Lúcio da Silva o seu último disco; falo de Mick Harvey, autor do celebrado Intoxicated Man, um disco de versões de Serge Gainsbourg, que deu muito que falar em 1995. O concerto é no dia 31 de maio. Não esquecer.

Nick Cave, Thomas Wydler, Mick Harvey, Blixa Bargeld, Conway Savage, Martyn Casey, Barry Adamson, Hugo Race, James Sclavunos, Warren Ellis, James Johnston, George Vjestica, Kid Congo Powers, Roland Wolf, Anita Lane. Isto quase que dava para fazer um “Festival Bad Seeds”. Imaginem um line-up com estes artistas e respetivos projetos. Dava para espalhar um bom caos durante três ou quatro dias aí num descampado qualquer. Fica a ideia.

A discografia de Nick Cave and Bad Seeds deu-nos alguns dos mais belos momentos musicais da história. A sua evolução ao longos dos anos mostrou-nos que o artista australiano tem uma capacidade criativa incrível e a cada disco novo, uma sonoridade nova, ultimamente com a preciosa colaboração de Warren Ellis, E em agosto teremos Wild God, 18.º álbum com os Bad Seeds. E um concerto no Meo Arena no dia 27 de outubro. Isto sim, é uma rentrée como deve ser.

Push the Sky Away, de 2013; Henry’s Dream, de 1992; Ghosteen, de 2019; são discos que vão rodando por aqui sem parar. A propósito deste texto acabei por revisitar também From Her to Eternity e digo-vos que tem sido uma viagem infernal ao passado. Que disco do demo.