Opinião

Música | Henning e a refração ao piano

22 jul 2022 20:00

Em Klavierraum, Später há um elogio ao piano e uma evidência e preponderância que lhe é dada pelo génio musical de Henning

De Berlim, trago-vos hoje Henning Schmiedt e o seu belíssimo álbum Klavierraum, Später (editado em 2019).

Henning poderá, porventura, não ser um nome que reconheçamos de imediato, ainda assim é um pianista, compositor e produtor de tal forma influente que já se “imiscuiu” em trabalhos de compositores como o recentemente falecido génio grego Mikis Theodorákis, a nova-iorquina Jocelyn B. Smith ou o chinês Wu Wei.

Para além de arranjador e desenvolver trabalho de produção, Henning é um pianista exímio e que, não raramente, nos presenteia com composições suas em grandes palcos, no formato de piano solo.

Klavierraum, Später é uma edição de Flau – uma label discográfica com sede em Tóquio, Japão, tendo sido fundada em Dezembro de 2006, pelas mãos e posterior curadoria de Yasuhiko Fukuzono. Os lançamentos de Flau tendem a ser bastante ecléticos, estilisticamente bem diversificados, apadrinhando projectos desde o folk acústico ao rock alternativo ou dream pop.

Por de entre a vasta discografia de Flau, há um evidente preservar de qualidade sem com isso comprometer a diversidade, Fukuzono consegue assim – facilmente – “fidelizar” os seus ouvintes emanando, de forma consistente, como que uma positividade celestial. E os trabalhos de Henning não são exceção, pelo contrário, parecem-me ser dos projectos com mais expressão e mais acarinhados da editora (mas isto pode ser só fruto da minha ingénua perceção).

Desde 2008 que Henning e Fukuzono trabalham em conjunto, e desde então serão – salvo erro – já sete os álbuns de piano solo do compositor lançados em parceria; e vários os prémios que marcaram esta já intensa viagem criativa, como o prémio Jazz do IFPI (Suécia), prémio da Crítica Discográfica Alemã e 2º prémio internacional Jazz Hoeilaart.

Note-se, Klavierraum, Später é uma reaproximação e um reinventar do álbum de 2007 - álbum de estreia - de Henning Schmeidt intitulado Klavierraum.

Em Klavierraum, Später, desde logo no seu tema inicial “Bio Ei”, sentimo-nos embevecidos pelo jeito de movimento refrativo e quase involuntário com que o autor se manifesta ao piano, lembrando-me um pouco Thomas Newman na sua incontornável banda sonora para American Beauty, emanando calor e a tal positividade de que falava a propósito da curadoria feita por Flau.

Num começo – aparente - de partilha de sensações algo discreto, com complexas mas descomplexadas peças para piano, Henning segue para o uso de sintetizadores, muita reverberação e uma palete de sons que nos surpreende, acalenta e nos remete para uma sonoridade new age. O álbum termina com duas brilhantes remisturas do álbum de estreia.

Encontraremos laivos de jazz em Klavierraum, Später e, pese embora por de entre uma produção intensamente rica e até mesmo audaciosa, há um elogio ao piano e uma evidência e preponderância que lhe é dada pelo génio musical de Henning.

Cinema ficcional, documental, criações para instalações sonoras, vasto reportório de composição para música de câmara, música vocal, entre outras formas de expressão artística - várias e apetecíveis são as nuances deste autor que reside atualmente em Berlim.