Opinião

Música | Honey Boy

21 fev 2020 20:00

Seria muito difícil, nestes breves textos que vos escrevo, eu vir a nunca partilhar um pouco do percurso do músico e artista visual norte-americano Alex Somers, ou não fosse eu um confesso e atento seguidor dos islandeses Sigur Rós.

Somers tem paulatinamente rumado ao sucesso quer, obviamente, por mérito próprio, quer por claramente beneficiar de toda uma rede de contactos e oportunidades que indissociavelmente advêm da sua estreita relação com aquela banda (tão estreita até que é, há já vários anos, também companheiro do vocalista - Jónsi).

Ainda assim, e pese embora tenha estado directamente envolvido na produção (quer musical quer visual) de álbuns de culto dos Sigur Rós como Takk… ou Valtari, a ascensão mediática deste músico de 35 anos tem-se devido ao seu trabalho no projecto que divide com Jónsi, de nome “Jónsi & Alex”, de onde destacaria o belíssimo Riceboy Sleeps (2009) que teve direito, o ano passado - e em jeito de celebração da sua primeira década de existência -, a uma fenomenal colaboração com a Orquestra e Coro internacional de Sidney, durante o mítico festival Vivid, na Sydney Opera House.

Terá sido um momento memorável, estou certo. Contudo, nos últimos anos, Somers tem recorrido a esse seu lado mais experimental e alternativo também na produção, para criar bandas sonoras para filmes, tendo sido Honey Boy um dos últimos onde participou. 

Drama norte-americano de 2019, realizado por Alma Har’el e escrito pelo cada vez mais surpreendente e sempre irreverente Shia LaBeouf, num registo autobiográfico.

É este álbum, entretanto tornado disponível nas plataformas digitais, que, hoje, vos aconselho a escutar, não ainda enquanto obra escrita para imagem pois não estou na condição de o fazer por ainda não ter visto o filme, mas sim enquanto obra estritamente musical.

Acaba por ser um fiel registo daquilo a que Somers nos tem habituado mas concedendo ao seu experimentalismo uns laivos da sonoridade mais pop (não é que não o tenha feito antes, mas aqui é um traço evidente).

Música bem agradável para escutarmos fora do universo que LaBeouf nos mostra em Honey Boy mas que se torna até tangível, para darmos folga a este ano de 2020 que avança já demasiado rápido, numa toada contemplativa, sempre leve e profundamente introspectiva.

Somers recorre a uma miríade de brinquedos e instrumentos “fora da caixa”, disruptivos na sua abordagem, e com aquelas sempre ocasionais vozes etéreas que o autor tanto gosta. Este disco surge apenas um mês depois do lançamento surpresa de Lost and Found, o último trabalho vindo de Jónsi & Alex.

Honey Boy OST pode ser um disco para ter sempre por perto.