Opinião

Ninjas e Princesas: Alibi

12 mai 2016 00:00

A verdade é que a mãe, ou seja eu, até é uma pessoa bastante “cantadeira” por natureza, por isso aproveitava a desculpa e passava a vida a cantar para ele.

Qualquer livro sobre gravidez e puericultura vos dirá que é bom cantar para os nossos bebés até quando eles ainda estão dentro da barriga. Parece que acalma os bebés e cria uma ligação com a voz da mãe. Já para não falar que contactos com música, seja porque motivo for, serão sempre um bom pretexto para tudo na vida.

De facto, quando o Ninja nasceu acalmava-se com a mãe a cantar. E mesmo antes de nascer, lembro-me perfeitamente de andar grávida e a cantarolar para ele. Ou para mim, porque tenho de admitir que mesmo antes de engravidar já era pessoa de andar a cantarolar só porque sim.

A verdade é que a mãe, ou seja eu, até é uma pessoa bastante “cantadeira” por natureza, por isso aproveitava a desculpa e passava a vida a cantar para ele. Cantava-lhe de tudo um pouco, músicas tradicionais, portuguesas, estrangeiras, calmas, animadas, bonitas, foleiras, dependia da situação. E ele gostava. E agora até já canta comigo, mas só se for o genérico do Jake ou dos PJ Masks… Para adormecer era certinho: Madredeus, Zeca Afonso, um bocadinho de Márcia com o JP Simões ou Elbow e a coisa funcionava.

Os vizinhos, coitados, já deviam saber o alinhamento de cor. Mas como todas as crianças são diferentes, nestas coisas das cantorias os meus filhos também são o sol e a lua, a Princesa chorava e eu começava a cantar só para ela se irritar e berrar ainda mais. Desisti.

Nada de cantorias para acalmar esta bebé. Tive pena, que até era uma boa desculpa para revisitar as minhas baladas preferidas. No outro dia, por motivos que não interessam muito ao estimado leitor, vi-me com ela ao colo numa sala de espera meio lotada mas daquelas onde não se ouve sequer uma mosca a zumbir baixinho.

Comecei a andar com ela de um lado para o outro, para a entreter, e a cantarolar baixinho, para me entreter a mim, que já também estava farta de estar à espera. Para ela não poderia ser, certamente, visto que ela não aprecia e nunca mais tentei cantar para ela desde aqueles primeiros dias em que constatei que não valia a pena. E sorri.

Sorri porque de repente apercebi-me que ter um bebé ao colo é o alibi perfeito para andar a cantar no meio da rua sem ninguém notar que somos um pouco maluquinhos. Isso ou falar sozinho, com um bebé ao colo também resulta na perfeição.