Opinião
O amor também precisa de alimento
Sermos mais honestos com o nosso companheiro ou companheira e sentirmos orgulho dele ou dela é capaz de trazer mais paixão e desejo
O amor também precisa de alimento
Às vezes o amor, no calendário, noutro mês, é dor, é cego e surdo e mudo…”. A letra da canção do brilhante Sérgio Godinho explica quase tudo ficando apenas a faltar a melhor forma de não perdermos o amor por nós e pelo o outro. A pandemia criou a tempestade imperfeita – ele, ela e os filhos encerrados dentro de quatro paredes.
Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística, por cada 100 casamentos registados em 2020, ocorreram 91,5 divórcios – um recorde absoluto, o que representa 17.295. No entanto, há que ter em conta que aquele foi também o ano em que se realizaram menos matrimónios – apenas 18.457. Em 2019, foram 32.595 e em 2018, 34.030, mas a queda não é de agora e já se verifica desde os anos 90. Ao contrário dos divórcios, que não param de aumentar. Logo após o primeiro confinamento, em maio, foram 3.862, mais 235 do que no mesmo período do ano anterior.
Na realidade, as ruturas conjugais são muitas mais porque as uniões de facto dispensam a oficialização, escapando às estatísticas. Bem sei que quando duas pessoas já não se suportam o melhor é mesmo cada uma seguir o seu caminho, mas também acredito que deve ter havido um momento em que essas mesmas duas pessoas estiveram apaixonadas, viveram boas experiências e por isso decidiram partilhar uma vida a dois. Os casais devem estar atentos aos sinais e agir antes da situação chegar ao limite.
Num artigo publicado no El País duas psicólogas, especialistas em terapia de casal, enumeram alguns sintomas de uma relação à beira do abismo, entre eles, a falta de cumplicidade, as dinâmicas tóxicas do dia-a-dia e as mudanças nos planos de vida de cada um. Quando o casal atinge este patamar deve parar para pensar e agir de imediato. Sermos mais honestos com o nosso companheiro ou companheira e sentirmos orgulho dele ou dela é capaz de trazer mais paixão e desejo.
Os especialistas acreditam que sim e também defendem que se inovarmos na vida sexual lá de casa (por exemplo uma noite a dois num Motel, de preferência sem os filhos atrás!) e se formos mais carinhosos e partilharmos mais afetos a probabilidade de salvar a relação aumenta consideravelmente. Outro dos conselhos importantes é deixar à porta do quarto toda a tecnologia (televisão incluída) e aproveitar aquele momento para outros assuntos bem mais interessantes. Jantar fora, ir ao cinema e passear de mão dada também deve ajudar e provavelmente, para os casais que têm filhos, irá transmitir uma mensagem positiva que mais tarde poderá ser reproduzida pelos mais pequenos quando crescerem.
Estejamos atentos às nossas relações, cuidemos o melhor que pudermos de nós e dos nossos companheiros e companheiras, e não nos esqueçamos de alimentar o amor sempre que quisermos e bem entendermos. Ele precisa de nós para sobreviver. Sérgio Godinho também canta “Vou-te dizer. A luz começou em frestas, se fores a ver, enquanto assim durares, se fores amada e amares dirás sempre estas palavras…”