Editorial

O antigo que se faz moderno 

10 abr 2025 08:04

Se o vinil é melhor que o digital, depende a quem se pergunta

Sem saudosismo ou nostalgia, há algo de mágico no som do vinil e no ritual que envolve a sua audição: tirar o disco da capa, limpá-lo, posicionar a agulha e ouvir aquele estalido inicial que anuncia o início de uma viagem. Na nossa região, onde o tempo parece por vezes dançar entre o passado e o presente, este hábito continua a manter e a conquistar adeptos, como vos damos conta no trabalho de abertura desta edição.

A Auditu, uma das lojas de música mais antigas do País, é disso um testemunho. Resistiu à ascensão do CD, ao reinado absoluto do digital e à aparente obsolescência dos formatos físicos. Sobreviveu, renasceu e, hoje, mantém-se viva e frequentada, graças a um público que encontra no vinil muito mais do que apenas música. Um público que aprecia o revivalismo estético das capas, que se rendeu a um formato que exige tempo e atenção.

Como o comprovam a longevidade desta loja, os mercados de venda de vinil ou eventos como o Record Store Day, que se celebra este sábado em todo o mundo, este não é um simples retorno ao passado. É um presente reinventado e um futuro analógico-digital explorado, por exemplo, por músicos como Stereossauro, que manipulam vinil com o auxílio de software, misturando tradição com inovação. Uma agulha que lê, mas também cria. Um disco que toca, mas também inspira.

Nesta ascensão cada vez mais sustentada do velho formato, há também muito de continuidade, de transmissão e de inovação. Na Auditu, em Leiria, são já os filhos de alguns dos primeiros clientes a percorrer as prateleiras à procura das novidades musicais. E na Maceira, concelho de Leiria, a única fábrica de vinil do País, continua a aumentar a produção, garantindo já a exportação para mais de três dezenas de países.

Se o vinil é melhor que o digital, depende a quem se pergunta. Do que não há dúvidas é que é diferente. Objectivamente, a fidelidade dos sinais sonoros é melhor no digital. Mas “quando estamos a ouvir um vinil, existe um contexto, existe um disco, pode-se olhar para os sulcos e quase ver a informação visualmente, existe uma agulha, existe calor”, caracteriza o investigador Isaac Raimundo.