Opinião
O atraso português
Concorrer mais vezes lá fora acarreta um risco, ter sucesso numa próxima vez
Começa assim o título de um livro que comprei há poucos dias numa livraria. Continua com um arrepiante “modo de ser ou modo de estar?”. É uma realidade dura para quem, como eu, não olha para o lado.
Imaginem o que é concorrer a uma oportunidade de emprego no Estado, para uma vaga que, logo à partida, já se sabe o nome de quem vai ficar com o lugar. Isto num concurso que decorre há dois anos e meio. Brinca-se com a cara de dezenas de candidatos. Felizmente que apenas um sabe e que não tem ilusões.
Ou imaginem concorrer a uma oportunidade numa empresa e esta nem sequer acusar a recepção dos documentos. E depois, passadas algumas semanas, esta mesma empresa pede para fazer um like na sua página das redes sociais. Tudo isto para um ordenado de pouco mais de mil euros. É a regra em Portugal.
Agora imaginem concorrer a oportunidades várias fora do País. Uma entrevista presencial na Irlanda, infelizmente sem sucesso. Uma entrevista online passadas apenas três semanas após a candidatura, também sem sucesso. Outras candidaturas a outras oportunidades que tinha interesse e CV adequado.
A regra foi sempre a rapidez, a resposta, o reconhecimento e o agradecimento pelo tempo despendido na candidatura. E apenas isto para ordenados de três ou quatro mil euros, mais ajudas várias. Concorrer mais vezes lá fora acarreta um risco, ter sucesso numa próxima vez. Porquê o risco? Porque a paixão pela região de Sicó é enorme e sair magoa o coração.
Ah e tal, cria uma empresa que resolves o problema. Por acaso, já o tentei fazer em 2009, mas ser persona non grata da oligarquia corrupta fechou portas e dificultou ao máximo. Migrei, desiludido.
Talvez seja este ano que a coisa se faça, contudo, como posso planear o futuro de uma actividade inovadora e criativa quando a classe política da região não é de todo uma garantia de estabilidade da boa gestão deste território e é, afinal, uma ameaça que torna o planeamento empresarial tão instável e arriscado? É neste lodaçal que estamos…