Opinião

O desnorte da segunda vaga

5 nov 2020 17:56

Ora, na minha opinião e sendo, para todos, inevitável esta segunda vaga, o Governo deveria ter abordado a questão do Verão e das férias de uma forma mais cautelar e prudente, não passando a ideia de que já estava tudo bem,

Portugal foi um bom exemplo, com direito a referências por todo o Mundo, na abordagem à primeira vaga da Covid-19, apesar de alguns disparates iniciais, tendo conseguido arrepiar caminho e, observando a calamidade e a elevada taxa de mortalidade que se verificava em Espanha e Itália, agir em conformidade e com rapidez, decretando o estado de emergência e o confinamento geral.

Com esta atitude, embora com grave prejuízo para a nossa economia e para as empresas, conseguiu controlar-se a situação, sem grandes problemas em termos de resposta do Serviço Nacional de Saúde, e foi possível ir retomando a normalidade, com alguma folga nos meses de Verão.

Ora, na minha opinião e sendo, para todos, inevitável esta segunda vaga, o Governo deveria ter abordado a questão do Verão e das férias de uma forma mais cautelar e prudente, não passando a ideia de que já estava tudo bem, onde até o primeiro-ministro e Presidente da República fizeram questão de ser vistos em restaurantes e espectáculos.

Deveriam, sobretudo, fazer uma avaliação do período passado e planear de forma muita objectiva e concreta o que alguns especialistas iam perspectivando para os meses de Outono/Inverno.

Afinal, onde está o reforço dos médicos e enfermeiros intensivistas - sendo necessária formação específica na área e quanto tempo será necessário para essa formação?

Medidas anunciadas focam medidas para a população e para cuidados intensivos - e onde ficam os cuidados de saúde primários, que deviam ser a base na pirâmide de abordagem? Que reforços prevêem? E os serviços de urgência hospitalar, antes da necessária admissão em intensivos?

E que medidas para reduzir o impacto nos doentes não Covid?

Pois bem, parece que nada disso foi feito e com os números a crescerem abruptamente vamos vendo uma atitude diferenciada dos meses de Março e Abril, aos solavancos, sem percebermos muitas vezes a pertinência de algumas medidas e o alcance de outras.

As imagens inacreditáveis do aglomerado de pessoas na Nazaré, que se juntou espontaneamente, apesar da indicação de não poderem estar juntas mais de cinco pessoas na via pública, e a passividade das autoridades, locais e nacionais, a olharem impávidos para o que estava a acontecer, sem nada fazer, é simplesmente inacreditável!

Ninguém podia fazer nada? Como? Sinceramente ninguém percebe isto, quando até nos restaurantes, mesmo que sendo família, não se podem sentar mais de cinco pessoas à mesma mesa!

Sou da opinião que, no actual momento, é fulcral a tomada de medidas que possam atenuar o ritmo crescente das últimas semanas, pelo que, para não ferir as susceptibilidades dos fundamentalistas da Constituição, entendo que o Presidente da República deve decretar o estado de emergência, para que possam ser implementadas medidas mais restritivas, embora sem que tenham que exigir, para já, as limitações da primeira vaga.

É impensável que a economia e as empresas resistam a mais um confinamento quase global, não esquecendo que mesmo estas medidas mais suaves vão continuar a ter impacto significativo nalguns sectores, designadamente na restauração, hotelaria, comércio e pequenos negócios.

Esperemos que pelo menos este impacto esteja a ser analisado e possa o Plano de Recuperação e Resiliência dar uma resposta válida, com apoios que possam ser atribuídos de forma objectiva e justa que contrariem a tendência de encerramento de muitas dessas empresas.