Opinião

O fim da indústria automóvel europeia?

11 jan 2025 16:32

Para evitar o colapso da indústria automóvel, a Europa tem de adotar uma abordagem integrada que inclua políticas públicas eficazes

Os governos europeus estão alarmados pelo abrandamento da produção de automóveis em particular de veículos elétricos. Muitos falam do fim da “indústria automóvel europeia”. Não significa o desaparecimento completo desta indústria, mas sim de uma crise e profunda transformação enfrentada por fabricantes europeus.

Esse cenário decorre de desafios económicos, tecnológicos, políticos, culturais que têm tido um impacto significativo na perda da competitividade global das empresas europeias. Importa recordar que a indústria automóvel é um dos pilares da economia europeia, representando mais de 7% do PIB da União Europeia e 6,1% do emprego europeu.

De acordo com a consultora AlixPartners, em 2023, a produção de veículos elétricos a bateria na Europa foi de 6,7 milhões enquanto que na China foi mais do dobro, cerca de 16,1 milhões. Estima-se que os fabricantes chineses de automóveis irão representar 33% do mercado global até ao final da presente década contra os 21% atuais. As marcas chinesas deverão ver a sua quota de mercado subir em todos os mercados, incluindo os Estados Unidos da América e o Japão.

Na Europa, estima-se uma subida de 6% para 12% até ao final da presente década. Com a aposta da União Europeia em se tornar o primeiro espaço com impacto neutro no clima a eliminação gradual da produção de automóveis com motores de combustão é uma das prioridades nos próximos dez anos.

Esta aposta em conjunto com a crescente concorrência internacional, em particular da China, desafiam a indústria a transformar-se ou tornar-se irrelevante em termos globais. Esta situação é bem evidenciada no recente Relatório Draghi sobre a competitividade da indústria europeia.

Segundo Mario Draghi os custos de produção na UE são, em média, 30% superiores aos da China e só com um investimento de 800 mil milhões de euros os países europeus conseguiriam fazer uma transição para energias limpas e assim competirem com rivais chineses cada vez mais agressivos.

Para evitar o colapso da indústria automóvel, a Europa tem de adotar uma abordagem integrada que inclua políticas públicas eficazes, investimento estratégico e colaboração entre governos, empresas e as próprias instituições europeias. É fundamental estimular alianças entre empresas europeias para diminuírem os custos de produção e aumentarem os investimentos em investigação e desenvolvimento em baterias de estado sólido, hidrogénio verde e veículos movidos a energias renováveis.

A UE deve garantir que todas as regiões da Europa participam e beneficiam da transição energética eliminando as disparidades entre Estados-membros. O investimento em infraestruturas como estradas, portos e sistemas de transporte público são também fundamentais.

Com uma estratégia unificada e focada na inovação e no investimento em investigação e desenvolvimento entre todos os Estados-membros, a indústria europeia poderá sobreviver e até voltar a liderar. 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico do Novo Acordo Ortográfico de 1990