Editorial

O futuro faz-se com os pés no presente

6 ago 2020 09:22

O presidente da Roland Berger, António Bernardo, em entrevista, nesta edição do JORNAL DE LEIRIA traça um futuro moderadamente optimista a médio prazo, mas deixa avisos

Se, por um lado, acredita que haverá, na sequência da crise provocada pela pandemia de Covid-19, mais insolvências e mais desemprego, por outro, diz que o seu impacto não será “tão traumático”, como entre 2009 e 2011.

Adivinha até, caso haja saber e engenho, um futuro risonho para a região, alicerçado na tecnologia e no turismo de qualidade que aposte no correcto ordenamento do território.

Mesmo assim e perante o cenário dos apoios europeus anunciados, António Bernardo salvaguarda que, a nível nacional, “é importante fortalecer a base industrial, sobretudo com indústrias limpas, com muita inteligência. E atrair muito investimento estrangeiro.”

Para a maior parte dos portugueses, a receita não é nova.

Contudo, o modo indolente e despreocupado do deixa andar, aliado ao chico-espertismo de alguns, tão enraizado no ADN nacional, tem impedido que Portugal trace o caminho de desenvolvimento e bem-estar que a Nação merece.

Desta vez, porém, estamos perante um momento definidor da História. Ou o aproveitamos, ou condenaremos o nosso País e a todos nós a uma existência irrelevante, própria dos povos que, de tanto (re)viverem num momento glorioso de um passado distante, se esquecem que o futuro faz-se com os pés no presente.  

Não podemos adormecer à sombra da bananeira dos fundos baratos e mesmo a fundo perdido com que a União Europeia nos acena, não podemos voltar a permitir, como aconteceu nos primeiros anos da entrada na CEE, os exageros e açambarcamento de dinheiros que deveriam ter beneficiado a maior parte dos cidadãos nacionais, apostando em sectores estratégicos, mas que apenas serviram para que meia-dúzia se abotoassem, em esquemas mais ou menos ilegais, mas absolutamente e moralmente podres.

Na comparação com os países da Europa de Leste e do Sul, Portugal cai todos os anos, na lista dos que maior crescimento têm do PIB.

Desde praticamente 1998 e o fim da Expo, que o País estagna, saltitando de crise em crise, vivendo breves momentos de recuperação, impulsionados por alguns – poucos – visionários e empreendedores que não baixam os braços no momento de se “reinventar” e de “fazer mais com menos”.

Porém, este não é tempo de capitulação. É tempo para avaliar, retemperar forças e reposicioná- las nos locais onde poderão ser mais benéficas.

É tempo de avisar aos Donos Disto Tudo que ninguém está acima da lei, que não permitiremos mais BES e Novos Bancos, e que não nos furtaremos a cumprir o nosso papel na criação de um País mais desenvolvido, justo e com futuro. Para nós e para os nossos filhos.