Editorial

O verdadeiro artista

24 ago 2023 09:30

É o sentido colectivo que tem feito nascer e crescer novos projectos de arte pública comunitária na nossa região

Como em tudo na vida, também na arte há artistas e ‘artistas’. Os primeiros procuram exprimir sentimentos através da sua criatividade, exploram novos caminhos melódicos, pictóricos, cénicos, tridimensionais ou literários, anseiam por transmitir uma mensagem, que pode ser provocatória, mas sempre de alma e mente abertas à comunidade e ao mundo que os rodeia.

Os segundos adoram explorar caminhos mais conceptualistas, nem sempre inteligíveis a outras mentes que não as suas, mas que os ajudam a alimentar o ego e a arregimentar seguidores, apenas porque se afirmam disruptivos.

Neste texto, preferimos destacar apenas os primeiros, à boleia do conceito explanado por Lara Seixo Rodrigues, em entrevista ao JORNAL DE LEIRIA. Para a directora artística do festival de arte urbana Fazunchar, que se realiza em Figueiró dos Vinhos, a arte não faz sentido se não possuir uma lógica comunitária. Ou seja, a antítese de um artista que se foca apenas no ego, “naquilo que eu penso, o que eu faço, o que eu quero fazer, a minha ideia, o meu conceito”.

É este sentido colectivo que tem feito nascer e crescer novos projectos de arte pública comunitária na nossa região, como são os casos, além do Fazunchar, da Aldeia Pintada, na aldeia da Torre, no concelho da Batalha, ou a Stone Art, na freguesia de Serro Ventoso, no concelho de Porto de Mós.

Em qualquer destes casos, as obras transformam-se em património comum, deixam de ser do criador e passam a ser da comunidade e do território. Regra geral, quando se envolvem nestes projectos, os artistas têm em conta o impacto que o seu trabalho pode ter na vida de alguém, naquela rua, naquela vila ou naquela comunidade.

E procuram usar o seu talento, não para alimentar o egocentrismo, mas para deixar uma marca inspirada na história local ou universal que sirva de incentivo ao reforço do sentido de pertença e identidade comunitária.

Conceptualismos à parte, para estas comunidades, são estes os verdadeiros artistas.