Opinião

Os abutres

23 fev 2017 00:00

Anos houve em que se poderia dizer que a cidade de Leiria e a sua região envolvente não eram merecedoras de uma equipa de futebol como a da União de Leiria.

Nesse período, as sucessivas boas classificações no principal escalão nacional, a presença em provas europeias e a passagem por Leiria de alguns jogadores e treinadores de topo ao nível do futebol mundial, não foram argumentos suficientes para mobilizar a região, sendo o Estádio Municipal de Leiria conhecido pelo reduzido número de espectadores que habitualmente acompanhava os jogos, mais parecendo, em alguns deles, que se jogava “à porta fechada”.

No entanto, a situação inverteu-se, e actualmente é o clube e a SAD que não merecem usar o nome de Leiria ao peito.  

A forma como algumas pessoas têm espezinhado os destroços que restaram após a queda violenta da União de Leiria, que a fez cair nos escalões inferiores do futebol português, com a insolvência de uma SAD e a constituição de outra pelo caminho, abona pouco a favor desta região, que se tem conseguido afirmar com êxito assinalável noutras áreas.

Em sentido contrário, no entanto, a União de Leiria, que já foi uma das marcas que maior projecção davam à região, perdeu essa dimensão e, pior, tem sido notícia por razões que não orgulham ninguém.  

E não será necessário regressar muito atrás, ao tempo em que a cidade corou de vergonha ao ver a sua equipa entrar em campo com apenas oito jogadores, pois o passado recente tem sido pródigo em episódios que nada dignificam uma instituição com meio século de história e que surgiu pela mão de alguns dos mais ilustres leirienses da época.

Os últimos anos têm sido feitos de intrigas, acusações, suspeitas, ameaças e lutas de poder, mais parecendo que a União de Leiria deixou de ser uma instituição desportiva e passou a um antro de má-língua, com actuais e antigos dirigentes, mais alguns adeptos históricos à mistura, a envolverem-se numa disputa, que esta região, de todo, dispensava.

Ao ponto de o próprio presidente da Assembleia Geral afirmar que há um “clima de guerrilha”. Ou seja, a União de Leiria bateu no fundo, sendo difícil prever que futuro lhe estará reservado.

Mas se pensarmos que esta região há muito que se alheou dos seus destinos, mesmo quando vivia os seus momentos de ouro, poder-se-á antever que o que  aí vem não será bom. No fundo, é o que acontece a todas as instituições que, com o tempo, vão afastando as pessoas – obra de João Bartolomeu – e deixam na sua órbita apenas uns quantos que, por uma qualquer razão que cada leitor poderá tentar perceber, lutam agora arduamente pelo controlo dos cacos, uns  assumindo-se mais do que outros.

*Director do JORNAL DE LEIRIA