Opinião

Os ânus dos outros

21 nov 2019 16:36

Se calhar, se dessem mais uso ao que têm, não perdiam tanto tempo com o alheio e poderiam usar o dedo em riste, que está sempre a apontar a outrem, sei lá, para fins recreativos íntimos e, eventualmente, mais prazerosos.

Na semana passada tive o privilégio de apadrinhar, na Stereogun, o primeiro evento oficial do Movimento LGBTI Leiria - um grupo de pessoas que procura dar apoio à comunidade LGBTI local, assegurando os seus direitos e combatendo a discriminação, o preconceito, e todos os tipos de fobias.

É também desígnio deste colectivo promover a inclusão, união e empatia da comunidade através de actividades assentes em valores como a igualdade e a tolerância. Fiquei feliz por perceber quão gratificante é podermos ajudar a celebrar a diversidade de uma forma livre, de cabeça erguida, de rosto exposto, com a dignidade que qualquer ser humano merece ter.

Mas logo vieram um quantos “machos latinos”, daqueles à séria, que nem uma mulher sequer sabem tratar, fazer uma quantidade inusitada de comentários jocosos e cretinos nas redes sociais, numa demonstração pública de homofobia descarada e sexismo sem vergonha, encorajada, provavelmente, pela ascensão sinistra de oportunistas irresponsáveis como os Bolsonaros, Salvinis, Orbáns, Abascais, Venturas, Trumps e trampas da mesma estirpe, que querem fazer do mundo um lugar de medos, de segregação, de ódios, de retrocesso social e civilizacional.

Pelo meio também pude ler lamentáveis intervenções de algumas senhoras, com idade para terem mais sapiência, que ainda parecem enclausuradas em sacristias bafientas, de onde até o Papa Francisco quer estar a milhas de distância.

“Caramba!” - pensei eu - “tanta gente preocupada com as vaginas, com os pénis e com os ânus dos outros!”.

Se calhar, se dessem mais uso ao que têm, não perdiam tanto tempo com o alheio e poderiam usar o dedo em riste, que está sempre a apontar a outrem, sei lá, para fins recreativos íntimos e, eventualmente, mais prazerosos.

Desculpem-me a linguagem demasiado gráfica, mas isto tira-me tanto do sério que tenho dificuldade em conter o meu vernáculo.

O Amor, ah… o Amor…

O Amor não tem sexo, é um sentimento supra-género! E é notável a coragem que muitos têm que ter para que o possam, simplesmente, consumar.

É preocupante verificar que ainda há tanta gente (certamente infeliz, só pode!) que teima em diabolizar algo tão “simples” e admirável como… AMAR!

É por isso que devemos louvar, agraciar e dar as boas-vindas ao Movimento LGBTI Leiria, sobretudo, porque há, afinal, muito trabalho a fazer…

Se sou gay? Sê-lo-ia, despudoradamente, se a outra opção fosse ter que ser mentecapto.