Opinião

Os laços

10 mai 2018 00:00

Depois de passado esse algum tempo, é necessária uma ausência, de dimensão suficiente para que possa trazer consigo a indispensável pequena dose de saudades.

Talvez se encerre algum mistério na forma como se constroem e mantêm os laços fortes que nos vão amarrando à vida. Ou talvez precisemos de aprender como se descobrem as pontas com que se possa dar uma boa laçada, passados que sejam já os anos da inocência de o fazer por instinto, e bem.

Ou talvez eles sejam simplesmente o resultante de uma natural arrumação de afectos, que a nossa mente intrincada acabe muitas vezes por complicar. Ou talvez seja tudo isso.

Seja como for, os laços são coisas vivas que ora se atam ou desatam, ora se estreitam ou se tornam lassas, ora nos apertam até perdermos o ar, ou nos seguram para sempre. Para um laço são precisas duas pontas, nem uma mais, que se comecem a atar de mansinho num momento qualquer, em avanços imperceptíveis por entre os pequenos nadas do dia-a-dia de quem as segura; ainda que sem saber que as segura.

Para podermos sentir que um laço ficou atado é imprescindível que algum tempo passe. Às vezes bastante tempo, se andarmos distraídos, ou se não nos for imediatamente possível distinguir entre o que seja um hábito reconfortante e o que afinal se foi tornando único para nós.

 Depois de passado esse algum tempo, é necessária uma ausência, de dimensão suficiente para que possa trazer consigo a indispensável pequena dose de saudades; umas vezes em forma de lembrança assídua, outras em forma de pequeno espaço que se acrescenta em nós, à espera de que consigamos descobrir qual o nome que cabe lá dentro.

 E essa saudade será uma espécie de selo branco que nos garante a autenticidade do que foi sendo construído por entre a distracção dos dias. Se não for com uma ausência, será então com uma presença inequívoca e calma que o laço se revela, num momento intenso mas contido - longe de sofrimentos maiores ou de alegrias com rufos de tambor, que as grandes emoções não são terreno bom para a subtileza dos afectos – e que se tornará assim de inesperada partilha e pequena fe

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