Opinião
Os paliativos
É absolutamente inaceitável que os cuidados paliativos continuem a não chegar a cerca de 70 a 80% da população que deles precisa.
Os cuidados paliativos continuam a ser o parente pobre do Serviço Nacional de Saúde. A nível nacional faltam camas, faltam equipas comunitárias, faltam redes de apoio, faltam recursos humanos especializados, em suma, falta uma estratégia nacional.
Lamentavelmente, há quatro meses falta até a Comissão Nacional dos Cuidados Paliativos, uma vez que o Governo ainda não a nomeou.
Leiria aparece como uma exceção nesta inação na área dos cuidados paliativos, mas sobretudo pela iniciativa do Centro Hospitalar de Leiria e do Município de Alcobaça, que garantiram a abertura há poucos dias das primeiras camas de paliativos no distrito.
Leiria era o único distrito do país sem nenhuma cama de paliativos, alerta que vinha sendo feito pelo PSD.
É absolutamente inaceitável que os cuidados paliativos continuem a não chegar a cerca de 70 a 80% da população que deles precisa.
Há mais de 8.000 crianças a precisar de cuidados paliativos e não chegamos sequer a 10%. Falham-se clamorosamente objetivos, que já de si eram modestos, sucessivamente.
Veja-se o caso do objetivo de termos cerca de 65 a 100 equipas comunitárias, quando conseguimos chegar apenas a 26 equipas a nível nacional.
É absolutamente desumano negar cuidados a estes doentes em fim de vida.
Têm sido várias as propostas apresentadas para garantir mais respostas para estas pessoas. Uma dessas medidas pode ser o reforço desta resposta envolver instituições do sector social que têm estado praticamente arredadas desta área.
Outra prioridade deve ser contrariar a falta de formação especializada em cuidados paliativos, daí que importe considerar a introdução da disciplina no currículo pós-graduado de diversos cursos de saúde, para além da contratação de profissionais especializados.
E é fundamental garantir maior celeridade na atuação para estes doentes com necessidades em cuidados paliativos, daí que se devesse avaliar a criação de uma espécie de via verde para permitir que os doentes que precisam deste tipo de cuidados possam ser referenciados o mais precocemente possível.
É preciso garantir dignidade às pessoas em qualquer que seja a fase da vida.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990